domingo, 17 de junho de 2012

IPGAP OIL & GAS & ENERGY NEWS - N° 87

I – NOTÍCIAS

1- Petrobrás eleva investimento em 5,2%
O plano de negócios da Petrobrás para o período 2012-2016 elevou em 5,2% os investimentos em relação ao plano anterior (2011-2015), mas reduziu as metas de produção a longo prazo e limitou o comprometimento de recursos em projetos que ainda não têm o planejamento básico aprovado.
Aprovado pelo Conselho de Administração, o plano de negócios prevê o investimento de US$ 236,5 bilhões até 2016, ante US$ 224,7 bilhões do plano 2011-2015, anunciado em 2011. São US$ 11,8 bilhões a mais. Em reais, a alta é ainda maior, de 7,1% (de R$ 389 bilhões para R$ 416,5 bilhões), de acordo com valores especificados nos documentos do ano passado e atual, com as conversões de cada um.
A reação do mercado ao plano foi negativa. As ações ordinárias (com direito a voto) da Petrobrás caíram 3,87% na Bovespa e a preferenciais, 3,86%. Foram a segunda e terceira maiores baixas do Ibovespa, que terminou o dia com perda de 0,54%. Analistas consideram que, sem reajustar os combustíveis, a empresa pode ter dificuldade de financiar seu plano de investimentos.
O plano 2012-2016 espelha o embate travado desde fevereiro - quando tomou posse a presidente Graça Foster - entre a cúpula da Petrobrás e a equipe econômica do governo Dilma Rousseff. Graça e seus diretores defendiam um plano com metas mais realistas, sem exageros. Ela defende também uma correção da defasagem de preços dos combustíveis com o mercado internacional. Já o governo, sócio controlador, exige que a Petrobrás contribua intensamente com a política de ampliação dos investimentos, para estimular a economia e impulsionar o Produto Interno Bruto (PIB). E diz que não há previsão de alta da gasolina.
Uma semana antes da reunião, o ministro da Fazenda e presidente do conselho de administração, Guido Mantega, já adiantara a ampliação dos investimentos, confirmada anteontem. Em contrapartida, Graça conseguiu que as metas de produção de longo prazo fossem reduzidas. A medida é necessária para que a estatal evite descumprir metas, como tem ocorrido.
A queda prevista na produção para 2020, de acordo com o novo plano, foi de 11%. Passou a 5,7 milhões de barris de óleo e gás diários, ante os 6,4 milhões previstos pelo plano de 2011-2015.
Para 2016, a produção estimada também caiu em comparação com a prevista há um ano para 2015. A meta foi reduzida de 3,7 milhões de barris/dia em 2015 para 3 milhões em 2016. Para os próximos dois anos, foi mantida estável, mesmo com investimentos robustos. "A perspectiva de aumento da produção somente em 2014 leva investidores a questionar por que deveriam comprar ações da empresa agora", disse o analista Marcus Sequeira do Deutsche Bank, em relatório.
Graça também defendia foco na área de produção e exploração. O primeiro plano de negócios de sua gestão reflete a prioridade. Não só foram elevados em 11% os investimentos para o setor, de US$ 141,8 bilhões, como seu peso cresceu 3 pontos porcentuais. O segmento de exploração e produção agora concentra 60% dos investimentos. O Brasil concentrará US$ 131,6 bilhões.
A área que mais sofreu foi a de refino, transporte e comercialização, que perdeu US$ 5,1 bilhões em investimentos desde a última revisão, que já tinha enxugado o orçamento da área. O setor é um dos mais afetados pela estratégia de Graça de limitar os projetos ainda em "fase conceitual" (preliminar).
A partir de agora, com exceção da área de exploração e produção, terão prioridade empreendimentos com projeto básico (posterior ao conceitual) aprovado. Projetos em fase anterior disputarão recursos entre si. Só será aprovada a contratação quando o projeto comprovar viabilidade financeira. Caso contrário, ficará de fora.
Sabrina Valle e Sergio Torres
Fonte: O Estado de S. Paulo

2- Opep mantém produção em 30 milhões/dia
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) chegou a um acordo para manter em 30 milhões de barris por dia o teto de produção dos integrantes do cartel. O acordo foi anunciado pelo secretário-geral da organização, Abdullah al-Badri (foto), em coletiva após o término da reunião a portas fechadas em Viena.
Por sua vez, o ministro de Petróleo da Arábia Saudita, Ali Naimi, declarou-se feliz com o resultado da reunião. A Opep não descarta uma reunião extraordinária se os preços caírem muito.
Fonte: O Estado de S. Paulo

3- BNDES e Caixa liberam R$ 2,7 bi para subsidiária da OSX
A OSX Brasil informou que sua subsidiária OSX Construção Naval contratou com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal o financiamento com repasse de recursos do Fundo de Marinha Mercante (FMM), respectivamente no valor aproximado de R$ 1,35 bilhão cada, totalizando quase R$ 2,7 bilhões.
Os financiamentos se destinam à implantação da Unidade de Construção Naval do Açu, que a OGX está construindo no norte do Estado do Rio de Janeiro desde julho de 2011, com previsão de início parcial de operações no primeiro trimestre de 2013. A carteira de pedidos contratados pela clientela da UCN Açu é composta de 16 unidades offshore destinadas à produção de petróleo e gás no Brasil, segundo a OSX.
"A UCN Açu é um extraordinário instrumento para o desenvolvimento da produção de petróleo e gás do Brasil. A contratação do financiamento do FMM reafirma a importância estratégica de sua implantação para o nosso País", disse, em comunicado, Eike Batista, presidente do Conselho de Administração da companhia.
O prazo do financiamento é de 252 meses (21 anos) para ambas as instituições financeiras, com 42/36 meses de carência para amortização de principal e 36/30 meses de carência para pagamento de juros junto ao BNDES e à CEF, respectivamente. A taxa média de juros prevista é de dólar mais 3,38% ao ano, com pagamentos mensais junto às amortizações de principal após a carência. A prioridade do apoio financeiro ora contratado pela OSX junto ao BNDES e à Caixa foi aprovada pelo Conselho Diretor do Fundo da Marinha Mercante (CDFMM), em junho de 2011.
Fonte: Agência Estado

4- Brasil pode ser exemplo para outros países no uso de fontes renováveis de energia
No que depender do uso de fontes renováveis de energia, o Brasil pode se apresentar como um exemplo durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. No ano passado, o país chegou a 44,1% de utilização de fontes como energia hidráulica, eólica, etanol e biomassa na sua matriz energética, enquanto a média mundial é 13,3%.
Além da combinação de recursos naturais favoráveis, como grande quantidade de rios, vento, sol e solo apropriados para a utilização de fontes renováveis, o Brasil ainda desenvolve tecnologias nacionais que favorecem, por exemplo, a construção de usinas hidrelétricas sem reservatórios e também o aumento da produção de etanol.
"O setor energético é uma vitrine para o país. Todo brasileiro pode se orgulhar de sua matriz energética porque realmente poucos países têm esse quadro, tanto na geração de energia elétrica como no setor de transportes", avalia Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão público responsável por estudos e pesquisas que servem para subsidiar o planejamento do setor energético.
A participação da hidreletricidade é um dos destaques na matriz energética brasileira. O país tem o terceiro maior potencial hidráulico do mundo, atrás da China e da Rússia, e até agora só utilizou um terço desse potencial. "É claro que temos um desafio porque grande parte do que falta ser explorado está na região amazônica, que tem uma riqueza de biodiversidade que deve ser preservada. Mas não é incompatível o objetivo de preservação da Amazônia e a construção de hidrelétricas", diz Tolmasquim.
Outra fonte com potencial de crescimento no país é a eólica, aquela que gera energia com a força dos ventos. O potencial instalado de geração eólica é 143 mil megawatts-hora (dez vezes mais que a geração da Usina Hidrelétrica de Itaipu). Hoje, o país está em vigésimo lugar em geração de energia em termos mundiais e deve chegar ao fim deste ano em décimo lugar.
Os leilões de energia eólica que vêm sendo realizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) têm contribuído para aumentar a participação dessa fonte na matriz energética, aumentando a escala de produção de equipamentos, o que acaba barateando o custo dessa energia. A estimativa da EPE é chegar ao final de 2012 com mais de 3 mil megawatts de potencial instalado de energia eólica e, ao final de 2014, o país deve chegar a 7 mil megawatts.
Já o uso de energia solar é pequeno, pois essa fonte ainda é bastante cara no país. Mas Tolmasquim acredita que a aprovação da Aneel para a instalação de pequenos geradores residenciais de energia solar para a troca eletricidade com as distribuidoras poderá impulsionar o mercado. "As perspectivas são muito boas. A tendência é que ela [energia solar] rapidamente vá ficando mais competitiva".
Nos próximos dez anos, a expectativa do governo é aumentar o percentual de participação do conjunto das fontes renováveis de energia. Segundo estimativas da EPE, a presença desses recursos vai passar dos atuais 44,1% para 46,3% em 2020. "O nosso maior desafio é garantir o desenvolvimento do país mantendo a participação de renováveis na produção de energia. E a resposta é sim, o Brasil pode crescer mantendo alto nível de renováveis seja nos recursos de rios, biomassa, vento e sol. Temos um grande potencial", prevê Tolmasquim.
Apesar de reconhecer o avanço na diversificação da matriz energética desde a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio92), realizada há 20 anos, o coordenador da Campanha de Energia do Greenpeace, Ricardo Baitelo, avalia que o país poderia estar mais bem posicionado no desenvolvimento de outras fontes renováveis, como biomassa e pequenas centrais hidrelétricas, que, na sua avaliação, estão sendo "desprestigiadas".
Ele também critica os altos investimentos previstos no país para os próximos anos nos setores de petróleo e gás, incluindo a área do pré-sal, em detrimento de fontes renováveis. "Estamos bem avançados no desenvolvimento de fontes renováveis, mas, na hora de ver os investimentos, eles estão indo com maior intensidade para o petróleo". Para o Greenpeace, a Rio+20 não vai resultar em avanços significativos em relação ao setor energético. "A gente ainda carece de uma política nacional para fontes renováveis", diz Baitelo.
A matriz elétrica brasileira, que inclui apenas as fontes que servem para a geração de energia elétrica, tem uma participação de 88,8% de fontes renováveis. A média mundial é 19,5% e, entre os países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a média é 18,3%.
Sabrina Craide com edição de Lana Cristina
Fonte: Agência Brasil - ABr

5- Energia solar é a próxima fronteira que o Brasil terá que atravessar
Fonte: Redação TN Petróleo
Com a redução do custo de produção da energia eólica nos últimos anos - que passou de R$ 300,00 MWh em 2004, para R$ 100,00 MWh em 2012 - a geração eólica se fortaleceu assumindo posição de destaque na expansão da matriz energética brasileira até 2020.
Agora, a próxima fronteira é o aumento do aproveitamento da energia solar no país. “O Brasil tem uma insolação privilegiada, mas a capacidade instalada ainda é incipiente com apenas 20 MW. Já a Alemanha, onde a geração solar está em etapa mais avançada, a capacidade instalada é de 17.000 MW”, conta Marcelo Mello, CEO da Brix.
O Ministério de Meio Ambiente tem como meta atingir 15 milhões de m² de área com coletores solares até 2015. Atualmente, são cerca de 6,24 milhões de m².
Para o executivo, a solução para aumentar a participação da energia solar na matriz energética passa pela geração distribuída aliada à “rede inteligente” (smart grid), permitindo sua implantação de maneira pulverizada nos centros de consumo.

6- Statoil faz descoberta de "alto impacto" na Tanzânia
Fonte: Agência Reuters
A Statoil e a parceira ExxonMobil fizeram uma grande descoberta de gás em um bloco na Tanzânia que a companhia norueguesa opera.
A descoberta de grande impacto tem uma estimativa preliminar de 3 trilhões de pés cúbicos de gás.

7- Petrobras apresenta etanol produzido com bagaço de cana
Fonte: Agência Petrobras
A presidenta da República, Dilma Rousseff, visitou na quarta-feira (13), o estande da Petrobras na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, e conheceu a tecnologia do etanol de segunda geração da Petrobras. O biocombustível abastecerá 40 minivans que iniciam nesta quinta-feira (14) o transporte de participantes da conferência. A tecnologia aproveita o bagaço de cana como matéria-prima e permite ampliar a produção de etanol em 40% sem utilizar recursos adicionais da natureza.
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, também participou da visita ao estande. Lobão ressaltou que o Brasil é pioneiro nessa tecnologia para produção de energia renovável. “O Brasil prossegue criando e estabelecendo padrões novos para a economia e para criação de energia limpa”, destacou. O secretário geral da Rio+20, Sha-Zukang, comentou que o Brasil tem excelentes condições, como água, terra, sol e um belo povo.
O presidente da Petrobras Biocombustível, Miguel Rossetto, que apresentou a tecnologia no estande, ressaltou a missão da Petrobras como grande empresa de energia e de inovação tecnológica. “Produzir etanol a partir de resíduos é uma conquista. Significa mais energia com a mesma área plantada. Essa é uma tecnologia que preserva os recursos naturais”.
Tecnologia do etanol de segunda geração
A Petrobras já produziu 80 mil litros de etanol de segunda geração em uma planta de demonstração localizada nos Estados Unidos. As pesquisas são realizadas pelo Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) desde 2004, em parceria com instituições científicas e empresas de tecnologia nacionais e internacionais, apontando um rendimento de 300 litros de etanol por tonelada de bagaço seco. Uma das parceiras é a KL Energy, proprietária da unidade adaptada por pesquisadores da Petrobras para testar a tecnologia que abastecerá as minivans durante a Rio+20.
A companhia tem como meta iniciar a produção em escala comercial no Brasil em 2015. A unidade deverá ser integrada a uma usina de etanol operada pela Petrobras Biocombustível. O investimento no desenvolvimento dessa tecnologia faz parte dos US$ 300 milhões previstos para pesquisas em biocombustíveis nos próximos anos.

8- Licença de Instalação da EBR depende do Estaleiro
Segundo o presidente da Fepam, Carlos Fernando Niedesberg, a consolidação da Licença de Instalação do empreendimento EBR em São José do Norte depende apenas do próprio Estaleiro. A Licença Prévia (LP), concedida no final de 2011, dá o aval quanto à questão ambiental. Cabe à EBR, desde que recebeu a LP, atender a algumas condições para obter a Licença de Instalação (LI). As informações são do deputado Alexandre Lindenmeyer.
Abrangendo uma área de 1,5 milhão de metros quadrados e 65 mil metros de área coberta, o empreendimento contará com um cais de 700 metros de extensão e um dique seco. Em operação, deverá processar cerca de 110 toneladas de aço por ano e irá gerar de um a quatro mil empregos diretos em até três anos. Entretanto, o processo não está avançando nos prazos previstos. Para Lindenmeyer, “é importante esse posicionamento da Fepam para esclarecer os motivos pelos quais a questão está pendente”.
Fonte: Jornal Agora,RS


II – COMENTÁRIOS

1- O falso verde
Em tempos de construção de imagem verde para o mundo ver, o governo tem dito que está incluindo o econômico na questão ambiental. Não é verdade. Se incluísse, determinaria às montadoras o desenvolvimento de motores mais eficientes ao usar o álcool; os bancos públicos fariam exigências de respeito às leis ambientais na concessão dos empréstimos; os impostos seriam reduzidos para produtos e energia de fato sustentáveis.
O governo prepara pacotes de estímulo ao crescimento como se não houvesse ligação entre o econômico e o ambiental. Tudo é tratado em compartimentos estanques, com uma visão fraturada da realidade. Os temas não cruzam a Esplanada dos Ministérios, com raras exceções. Há muito tempo as mudanças climáticas uniram questões que, por andarem separadas, criaram para a humanidade o problema que temos agora.
Foram concedidos sucessivos benefícios às montadoras. Tantos, tão frequentes e tão extravagantes, que até o governo começou a ficar incomodado. E nos últimos dias tem ameaçado as montadoras caso elas não se comportem adequadamente. Quando lista o que pretende fazer é de arrepiar: quer controlar remessas de lucros, vigiar preços, exigir das empresas a abertura de suas contas e estrutura de custos.
Empresas de capital fechado não são obrigadas a abrir contas e estruturas de custos, se o governo fizer isso será uma violência. País de economia de mercado não pode impedir uma empresa de remeter lucros e dividendos para a matriz. Vigiar preços é uma velharia sem tamanho.
A indústria do biocombustível recebe elogios externos, como no último relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), por ser um dos pontos positivos do Brasil na transição para uma economia de baixo carbono.
Nós aqui dentro sabemos que o programa está com conhecidas dificuldades. Algumas delas criadas pelo governo, que através do sistema tributário e de subsídios beneficia o combustível fóssil, no sentido exatamente oposto ao que deveria fazer.
Para corrigir essa política estranha teria que retirar os incentivos à gasolina. Isso elevaria a inflação, o que atrapalharia os planos de derrubar mais os juros para incentivar à retomada econômica. Preso na armadilha que ele mesmo criou, o governo prepara um pacote para ajudar o etanol como forma de compensar o setor.
Se os preparadores de pacotes e levantadores do PIB tivessem alguma noção dos dilemas ambientais e climáticos nos quais o mundo está mergulhado teriam unido as duas pontas e fariam um pacote de socorro às montadoras com exigências de motores mais eficientes quando rodados com etanol. Isso aumentaria a eficiência do álcool e eliminaria a desvantagem do combustível.
É tecnologicamente possível, economicamente coerente e ambientalmente desejável. Por que não acontece?
Porque o pensamento econômico no governo é velho. Prefere as exigências descabidas dos anos 80.
A área econômica do governo poderia aproveitar a Rio + 20 e atualizar o seu pensamento. Se o fizer, entenderá que a questão ambiental não é um apêndice, mas a lógica da política. Pode-se aumentar o crescimento econômico, a oferta de emprego e o investimento através dos incentivos à redução das emissões dos gases de efeito estufa.
Quem não entender a crise climática que o mundo vive não entenderá a economia dos próximos anos e décadas. Ao contrário de alguns slogans e expressões que são moda passageira na vida empresarial, a exigência de "sustentabilidade" veio para ficar. A palavra tem sido mal usada e pela repetição vai perdendo a força. Mas o conceito que ela expressa permanecerá conosco.
Como a "Folha de S. Paulo" publicou na sexta-feira, o governo transferiu às empresas, em forma de subsídio ao crédito, quase R$ 30 bilhões em três anos. No ano passado o Tesouro pagou juros em média de 12,83% e emprestou a 6%. Essa diferença é custo direto.
O governo nunca divulgou o preço da diferença de taxas, mas foi obrigado agora pelo TCU. E isso é só uma parcela do subsídio dado às empresas porque não incluem as capitalizações e renúncias fiscais. Imagina se pelo menos uma parte dessa Bolsa Empresa fosse concedida com exigências de eficiência de energia e contrapartidas ambientais?
Políticas tributárias e creditícias são armas poderosas para induzir a economia em determinada direção. O governo poderia pensar em medidas como redução do IPI de placas solares e componentes; redução do custo fiscal de turbinas eólicas; incentivos aos modais de transporte, urbano e de carga, de baixo carbono; estímulo à formação de clusters da economia verde; exigência de contrapartida ambientais. Tudo isso é política industrial; mas na direção certa.
Às vésperas da Rio + 20, a área econômica avisa que vai beneficiar empresas verdes. Fez o oposto nos últimos anos: apostou em campeões nacionais sem ver a cor de suas práticas; concedeu empréstimo barato para termelétrica a carvão; subsidiou empresas que descumpriram legislação ambiental; deu estímulos para indústria de alto carbono e subsidiou o uso de combustível fóssil.
O governo não deveria improvisar nesse tema. Quem entende do assunto não confunde maquiagem verde com transição para a economia de baixo carbono.
* Artigo originalmente publicado no Portal O Globo, em 10/06/12.
Miriam Leitão
Jornalista, atua na área do jornalismo econômico e de negócios

2- Vexame ambiental
Que Código Florestal, nada. O grande fiasco brasileiro na Rio+20 se esconde no etanol. O país que ensinou ao mundo como trocar a gasolina fóssil pelo álcool renovável engata marcha ré na utilização do combustível limpo. Um vexame ambiental.
Pode-se comprovar facilmente esse retrocesso na bioenergia. Em 2011, o consumo dos combustíveis derivados de petróleo - gasolina principalmente - cresceu 19%, enquanto o uso do etanol nos veículos despencou 29%. Não precisa dizer mais nada. Anda na contramão da história a matriz energética dos transportes no Brasil.
Aconteceu que os consumidores reagiram ao desequilíbrio de preços a favor da gasolina. Duas razões básicas explicam a mudança do mercado. Primeiro, o governo federal tem reduzido o encargo da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre a gasolina, taxa que nos últimos anos recuou de 14% para 2,6%. Em consequência, acabaram praticamente equiparados os custos tributários de ambos os combustíveis. Uma política moderna de sustentabilidade, como buscada em todo o mundo, procederia ao contrário, ou seja, reduziria a carga tributária sobre o biocombustível, não sobre o derivado de petróleo.
Trata-se, obviamente, de uma decisão política, arcada pelo governo federal desde 2002. Com a redução da referida taxa, a Petrobrás, que normalmente deveria ter elevado o preço dos derivados de petróleo para manter sua competitividade global, se compensa pela perda de rentabilidade recolhendo menos imposto ao governo. Tudo dissimulado. Conta paga pela sociedade.
Em segundo lugar, a gasolina barata segura, obviamente, o preço do etanol na bomba, roubando margem dos produtores. Pouco lucrativa, a atividade alcooleira vê sua matéria-prima se direcionar para a fabricação de açúcar, movimento que se observa há tempos nas usinas. Bastante rentável no mercado internacional, o açúcar estimula a pauta das exportações. Resultado: a oferta de etanol se retrai, tendendo a elevar seu preço no posto de combustível, espantando a freguesia. Elementar.
O Brasil produziu cerca de 28 bilhões de litros de etanol nesta última safra (2010/2011). Nos EUA o volume já ultrapassou 50 bilhões de litros. Incrível. O país que inventou o Proálcool, obtido a partir da cana-de-açúcar, está tomando poeira dos gringos, que destinam 40% de sua safra de milho para a fermentação alcoólica. Mais ainda. A necessidade de manutenção de estoques confiáveis começou a exigir volumosas importações de etanol. Sabem de quem? Dos norte-americanos, claro. No ano passado, o Brasil comprou acima de 1,1 bilhão de litros de etanol dos EUA. Acredite se quiser.
Não é à toa que paira desilusão no setor sucroalcooleiro. Estimulados pela agenda da economia verde, nos transportes viabilizada definitivamente com a geração dos motores flex fuel, inéditos e fortes grupos, nacionais e multinacionais, entraram na atividade. Anunciaram planos formidáveis que, após quatro anos, micaram, roubando o fôlego do parque alcooleiro. Notícia ruim chega dos canaviais. E quem pensa que é chororô de usineiro se engana feio. Corretores garantem que 20% das usinas do Centro-Sul estão à venda. Sem comprador. As chamadas greenfields, novas plantas a serem construídas, em vários Estados, ficaram no papel. O pouco dinamismo existente advém da ampliação e modernização de fábricas já instaladas. Passos de tartaruga no etanol.
Milhares de estudiosos, ambientalistas e jornalistas se encontrarão logo mais na Rio+20. O governo brasileiro fará ginástica para justificar o inexplicável. Enquanto as nações se debruçam para encontrar soluções capazes de esverdear sua (suja) matriz energética, por aqui se desperdiça uma oportunidade de ouro, retrocedendo no uso do combustível renovável.
Os produtores de cana-de-açúcar e os usineiros de etanol, por sua vez, lançaram por aqui o Movimento Mais Etanol, querendo influenciar a mídia e sensibilizar o governo para sua agenda. Eles se propõem a dobrar de tamanho até 2020 - o que, ademais, geraria 350 mil empregos diretos -, mas precisam viabilizar uma estratégia de política pública que devolva ao etanol a competitividade roubada pelo controle dos preços da gasolina. Basta, de cara, reduzir a carga tributária sobre o biocombustível.
Gasolina barata e etanol caro acabam criando um círculo vicioso contra o meio ambiente, prejudicando a saúde pública. Segundo a Agência de Proteção Ambiental norte-americana (EPA, na sigla em inglês), o etanol derivado da cana-de-açúcar pode ajudar a reduzir até 91% o efeito estufa da Terra, quando comparado com as emissões advindas da queima de gasolina. Mas, curiosamente, o ambientalismo pouca bola dá para essa tragédia da poluição urbana. O foco de sua ferrenha atuação, conforme se verificou na questão do novo Código Florestal, mira no assunto da biodiversidade. Contra o desmatamento.
A intolerância dos ambientalistas agride os agricultores, como se do campo partisse todo o mal contra a natureza. Citadinos, eles poupam as desgraças ecológicas provocadas pela urbanização, a começar pelos escapamentos veiculares. Novos estímulos públicos ao setor automobilístico favoreceram agora as montadoras. Nenhum compromisso ambiental se firmou. Pouco importa, tristemente, aos radicais verdes.
Tal miopia do movimento ambiental, infelizmente, ajudará o governo a esconder, na Rio+20, o retrocesso na agenda do etanol. Seria interessante, aliás, como subproduto da reunião, discutir para onde caminha o ambientalismo brasileiro.
A incrível capacidade fotossintética do Brasil garante enorme vantagem na produção de biocombustível, energia renovável misturada com geração de empregos. Desprezá-la significa maltratar o etanol, um filho da Pátria.
*Texto originalmente publicado no Estadão, em 12/06/2012.
Xico Graziano
Fonte: O Estado de S. Paulo
Agrônomo, foi secretário de agricultura e secretário do meio ambiente do estado de São Paulo

3- LUBRIFICANTES – ENCONTRO COM O MERCADO
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