sábado, 2 de junho de 2012

IPGAP OIL & GAS & ENERGY NEWS - N° 85

I – NOTÍCIAS

1- Firjan: Decisão Rio apresentará volume recorde de investimentos
Fonte: Redação TN Petróleo
A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) apresenta na próxima terça-feira, dia 5 de junho, às 11h, a nova edição do estudo "Decisão Rio". O documento reúne os investimentos anunciados para o estado do Rio de Janeiro no período de 2012-2014 e revela que o Rio atrai volumes recordes de empreendimentos, a maioria em andamento.
O estudo apresenta ainda uma análise detalhada dos principais investimentos, com informações relativas a valor, mercado potencial, oportunidades de negócios futuros, cronograma de implantação e estágio atual do empreendimento. O documento reúne também investimentos relacionados às Olimpíadas e à Copa do Mundo, análise sobre empreendimentos estrangeiros, além dos investimentos anunciados para todas as regiões do estado.
O objetivo do Decisão Rio é apresentar oportunidades de negócios aos tomadores de decisão do setor público e da iniciativa privada, além de divulgar nacionalmente e internacionalmente as oportunidades existentes no Rio de Janeiro, atuando como instrumento de atração de novos negócios ao estado.
Rio de Janeiro receberá R$ 15,4 bilhões
Durante o II Balanço da Indústria Naval e Offshore, realizado no dia 23 de abril no Rio de Janeiro, Gouvêa Vieira antecipou alguns números que serão oficializados na ocasião. De acordo com o executivo, o Rio de Janeiro irá receber investimentos de R$ 15,4 bilhões nos próximos dois anos, 17% acima do registrado para 2011/2103.
O presidente da Firjan afirmou que do valor total investido no período de 2012-2014, R$ 6 bilhões irão para a construção de novos estaleiros. "Nessa conta não estão incluídos os investimentos nos estaleiros Inhauma e dos diversos estaleiros em Barra do Furado”, enfatizou Vieira, completando que a indústria prevê 11 mil empregos durante as construções e 16 mil postos de trabalho para quando os estaleiros entrarem em operação.

2- Dados atestam a continuidade da descoberta de Carcará
Fonte: Agência Petrobras
A Petrobras informou que novos dados obtidos com a perfuração do poço 4-SPS-86B (4-BRSA-971-SPS) comprovam uma coluna contínua de 171 metros de petróleo em reservatórios que a estatal definiu como sendo "de excelente qualidade". O bloco onde se localiza o poço é o BM-S-8, em águas ultraprofundas no pré-sal de Santos.
Foram retiradas novas amostragens de petróleo de cerca de 32º API de reservatórios situados até 5.910 metros que também atestam a continuidade da descoberta já comunicada ao mercado pelo consórcio no dia 20de março.
O poço está localizado a 232 km do litoral do estado de São Paulo, em profundidade de água de 2.027 metros. Atualmente a perfuração está sendo feita dentro da zona de petróleo, a 5.926 metros de profundidade, buscando determinar o limite inferior dos reservatórios e identificar a espessura total das zonas de interesse.
O consórcio afirma que dará continuidade às atividades e investimentos necessários para a avaliação da área, conforme o Plano de Avaliação aprovado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
A Petrobras é a operadora, com 66%, em parceria com a Petrogal Brasil, 14%, Barra Energia do Brasil Petróleo e Gás Ltda., 10%, e Queiroz Galvão Exploração e Produção S.A., com 10%.

3- OGX, de Eike, estima produzir 50 mil barris por dia em 2013
A produção de petróleo da OGX, empresa do empresário Eike Batista, deverá atingir entre 40 mil e 50 mil barris diários no segundo trimestre de 2013, disse o presidente da companhia, Paulo Mendonça.
A empresa esperava chegar a esse patamar ainda em 2012, com quatro poços em fase de extração no complexo de Waimea, na bacia de Campos. Mas a OGX optou por reduzir o volume na fase de Teste de Longa Duração (TLD), como é chamado o início da produção de um poço.
"Estamos produzindo sem a injeção de água e precisamos equilibrar isso. Se injetarmos água demais, vamos entregar o reservatório depletado. Estamos testando. Com a produção atual, de 8,5 mil barris no primeiro poço, estabilizou", disse o presidente da OGX em entrevista à Reuters.
A OGX deu início à produção do seu primeiro óleo, em Waimea, no dia 31 de janeiro deste ano. Nos testes, a produção teve diferentes níveis de vazão, entre 10 mil e 18 mil barris por dia, para o avaliar o comportamento do reservatório.
Atualmente existem dois poços abertos, e a produção média está em 17 mil barris/dia. Com o início da extração no segundo poço, no início do mês, a produção chegou a subir de 11,5 mil barris de petróleo para 23 mil barris/dia (ao todo), disse ele.
Mendonça informou ainda que um terceiro poço em Waimea começará a produzir no segundo semestre de 2012. Isso fará com que a produção atinja entre 30 mil e 40 mil barris/dia até o final do ano.
Um quarto poço virá somente em 2013, e aí a produção pode variar entre 40 mil e 50 mil barris/dia.
Parte do complexo de Waimea tem volume recuperável de 110 milhões de barris segundo o Plano de Desenvolvimento apresentado à Agência Nacional do Petróleo (ANP), mas pode chegar a 150 milhões, segundo Mendonça.
A estimativa para todo o complexo de Waimea (que envolve outros campos) permanece entre 500 e 900 milhões de barris. A declaração de 110 milhões de barris abrange apenas uma parte do campo, Waimea Pequena, batizada de Tubarão Azul, onde opera a plataforma FPSO OSX-1.
Acreditava-se inicialmente que Waimea era um único campo, mas recentemente a OGX dividiu o complexo em vários reservatórios.
Segundo o presidente da companhia, essa divisão foi necessária porque descobriu-se que existem vários tipos de óleo, com diferentes graus API (22 e 24 graus) e que funcionam com diferentes pressões.
Investimento
O executivo disse que a companhia será capaz de manter seu agressivo plano de produção de petróleo mesmo se crise grega do euro e uma desaceleração chinesa chegarem a forçar os preços do petróleo para patamares baixos.
A empresa pretende iniciar a produção em Waikiki, batizado de Tubarão Martelo, em 2013.
"Mesmo se o petróleo chegar em US$ 70 ou US$ 80 o barril, podemos ganhar dinheiro, continuar os nossos programas", afirmou.
"Se cair ainda mais para US$ 60 ou US$ 70 por barril, um monte de empresas vai estar em apuros. Mas se chegar a US$ 60 o barril será temporário", acrescentou Mendonça.
O petróleo Brent já caiu cerca de 15% desde o pico do ano de pouco mais de US$ 128 o barril no início de março, e agora está próximo ao valor do início do ano, em torno de US$ 106 o barril.
Uma patamar "bom" para a empresa seria acima do valor do Brent atual.
"Eu acho que entre US$ 120 e US$ 125 por barril é um preço bom, mas o que realmente me assusta é se o petróleo vai a US$ 150 o barril, o que poderia realmente ferir a economia mundial."
31/05/12
Fonte: Reuters

4- Cosan projeta crescimento de até 20% em 2013
O Grupo Cosan prevê um crescimento nada modesto para o ano fiscal 2013. A companhia estima atingir receita líquida entre R$ 26 bilhões e R$ 29 bilhões, afirmou ontem Marcelo Martins, vice-presidente de relações com os investidores da Cosan. Comparado ao faturamento líquido do ano fiscal de 2012, de R$ 24,1 bilhões, significará um crescimento entre 8% e 20%, se confirmadas as estimativas. Essa projeção não inclui a receita da Comgás, que está em processo de aquisição pela companhia.
Martins afirmou que a empresa projeta um Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) entre R$ 2,2 bilhões e R$ 2,5 bilhões para 2013. Os investimentos (Capex) deverão ficar entre R$ 2,1 bilhões e R$ 2,4 bilhões.
No centro dos holofotes por conta dos vários negócios anunciados este ano, a companhia, maior produtora de açúcar e álcool do Brasil e uma das maiores distribuidoras de combustíveis do país, fez proposta em fevereiro para entrar no bloco de controle da América Latina Logística (ALL), adquiriu ativos de lubrificantes no Reino Unido e anunciou em abril a compra de 60,1% de participação na Comgás, marcando sua entrada na distribuição de gás, tornando-se um grupo focado em infraestrutura e energia.
Nesta semana, a Cosan foi novamente ao mercado, desta vez para comunicar que sua divisão de alimentos, dona das marcas de açúcar União e Da Barra, se associou à Camil, maior beneficiadora de arroz e feijão da América do Sul, e ao fundo GIF Codajas Participações, gerido pela Gávea Investimentos , para criar uma das maiores empresas de alimentos do país.
A Cosan reportou receita líquida consolidada de R$ 24,1 bilhões no ano fiscal 2012, 33,4% superior ao do ano anterior. O lucro líquido foi de R$ 2,6 bilhões, valor mais que três vezes superior aos R$ 771,6 milhões obtidos em igual período anterior. O Ebitda quase dobrou na comparação entre os anos fiscais de 2011 e 2012, passando de R$ 2,67 bilhões para R$ 5,33 bilhões, reflexo das sinergias com a formação da Raízen, joint venture entre Cosan e Shell, constituída em 1º de julho de 2011.
O balanço de resultados do grupo agradou ao mercado. Ontem, os papéis ON encerram a R$ 29,96, com alta de 3,13%. Apesar da receita e lucro líquidos recuarem no quarto trimestre de 2012, analistas consideram que a empresa entregou bom desempenho, sobretudo na área de combustíveis.
No caso da Raízen Energia, a quebra agrícola que afetou os canaviais do Centro-Sul e sua consequente alta de custos gerou também impacto no lucro bruto da companhia, que contempla a produção de açúcar, etanol e energia. Apesar da renovação anual das áreas de cana acima de 20%, a Raízen não conseguiu elevar o volume de cana disponível para moagem no ciclo 2011/12, que alcançou 52,9 milhões de toneladas, 2,4% menor do que no ciclo anterior. Os números de moagem de cana para a nova safra ainda são incertos, mas a estimativa inicial da empresa é de que fiquem entre 52 milhões e 55 milhões de toneladas.
A companhia deverá focar a expansão na área de combustíveis, por meio da Raízen Combustíveis, nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, mercados considerados com maior potencial de crescimento pela empresa. Segundo Marcos Lutz, presidente da Cosan, porém, a empresa não deve avançar em participação de mercado no país, atualmente em torno de 23%. A expectativa é negociar entre 21 bilhões e 23 bilhões de litros ano fiscal 2013.
Lutz disse que a companhia busca atingir o grau de investimento pelas agências de classificação, mas não impôs prazo para isso. De acordo com Lutz, a Raízen deve alcançar esse status nos próximos meses. O executivo acredita que a Cosan ainda não alcançou o patamar devido ao nível de alavancagem. "A companhia está passando por transformação em sua estrutura, o que demora a se sedimentar", disse.
Mônica Scaramuzzo e Fabiana Batista
Fonte: Valor Econômico


II – COMENTÁRIOS

1- Estatais investiram R$ 26,5 bi no 1º trimestre de 2012
Fonte: Agência Estado
As empresas estatais investiram R$ 26,5 bilhões de janeiro a abril deste ano, segundo relatório do Ministério do Planejamento, publicado na edição desta sexta-feira (1º) no Diário Oficial da União (DOU). O valor corresponde a 24,7% do total autorizado para o ano, que é de R$ 107 bilhões. Representa, também, um aumento nominal de 17,1% em comparação ao montante gasto em igual período de 2011.
O desempenho das estatais tem sido utilizado nas discussões internas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para demonstrar que os investimentos caminham bem. A despeito disso, a presidente Dilma Rousseff determinou um "choque" nessa área para estimular a economia.
O grupo Petrobras responde pela maior parte do orçamento de investimentos das empresas estatais e dispõe de R$ 86,8 bilhões, dos quais desembolsou R$ 24 bilhões no período, uma realização de 27,7%. Desses, R$ 15,9 bilhões ficaram a cargo da Petrobras e R$ 240 milhões, da Petrobras Distribuidora. A Transpetro aplicou R$ 220 milhões do total de R$ 1,6 bilhão que lhe foi reservado. A refinaria Abreu e Lima já desembolsou R$ 3,4 bilhões neste ano, 34,9% da dotação disponível.
O grupo Eletrobras, que reúne 19 empresas do setor com participação da União, apresentou um índice de realização mais baixo, de 13,1%, tendo investido R$ 1,3 bilhão de um total disponível de R$ 10 bilhões. A Eletrobras apresentou o menor índice de desempenho do grupo, tendo gasto apenas 2,1% de seu orçamento até abril.
A Telebras investiu R$ 28 milhões de um total de R$ 400 milhões disponíveis, uma realização de 7,1% o que tem sido alvo de cobranças do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Os Correios investiram R$ 87 milhões, 10,2% do total que lhe foi reservado.
O relatório registra também um conjunto de empresas que não investiram nada nos quatro primeiros meses do ano. Caso da Companhia Docas do Maranhão (Codomar), das quatro empresas do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e da Petrobras International Finance Company (PIFCo).

2- Repsol e Sinopec têm US$ 1 bi para o pré-sal
Fonte: Valor Econômico
Resultado de um aumento de capital de US$ 7,1 bilhões, que colocou os chineses no pré-sal, e operadora da maior descoberta feita na região por uma empresa privada, a Repsol Sinopec vai investir US$ 947 milhões no Brasil este ano, quase US$ 200 milhões a mais do que em 2011. O novo presidente da companhia, José Maria Moreno, chegou no país em abril, tem os números na cabeça e não esconde o entusiasmo com os desafios.
Ele explica que os investimentos no Brasil serão muito maiores do que os que foram detalhados no plano de negócios da Repsol esta semana. A espanhola divulgou que vai investir o equivalente a US$ 1,508 bilhão no campo de Sapinhoá e US$ 1,005 bilhão no campo Carioca entre 2012 e 2016. Moreno explica que esses valores se referem apenas à participação de 60% da Repsol. Não incluem os 40% que cabem à Sinopec, e por isso o investimento nesses dois campos, no antigo bloco BM-S-9, serão de US$ 2,513 bilhões e US$ 1,675 bilhão, respectivamente. A empresa tem 25% no bloco, que antes era chamado de Guará.
Executivo experiente da Repsol com passagens pela Bolívia e Argentina, só para ficar na América do Sul, Moreno deixou claro que só por enquanto o maior destino dos investimentos da empresa irão para Sapinhoá. Operado pela Petrobras, ele deve começar a produzir no início de 2013 e até 2015 se espera uma produção de 250 mil barris/dia.
A estatal chinesa Sinopec adquiriu 40% dos ativos da Repsol no Brasil ao participar sozinha de um aumento de capital da empresa em 2010. O dinheiro que entrou ficou no caixa, que ainda tem US$ 6 bilhões. Pelo acordo, a Repsol nomeia o presidente da companhia brasileira e a Sinopec nomeia o diretor financeiro. Hoje, segundo Moreno, onze chineses trabalham na companhia, que tem 300 funcionários, incluindo terceirizados.
A descoberta mais animadora da Repsol Sinopec no Brasil tem o nome de uma das belezas naturais do Rio - o reservatório foi apelidado de Pão de Açúcar - e fica no pré-sal da bacia de Campos. Ali a Repsol Sinopec encontrou 1,2 bilhão de barris recuperáveis, sendo um campo gigante de petróleo levíssimo (48 graus na escala da Sociedade Americana de Petróleo), dois campos menores e 3 trilhões de pés cúbicos (TCFs) de gás.
Moreno diz que a Repsol "nunca viu" uma estrutura tão grande como a encontrada nesse reservatório, que tem uma estrutura de hidrocarbonetos com 500 metros de extensão. "Dos campos que conhecemos é o maior. E temos a sorte de sermos operadores", comemora, acrescentando não ter informações sobre outras áreas como o supergigante Lula (Petrobras, BG e Galp Sinopec), onde se estimam reservas de 6,5 bilhões de barris.
O Pão de Açúcar foi a terceira descoberta da empresa no bloco BM-C-33, onde encontrou outros dois reservatórios: Seat e Gávea, que são menores. Somente para delimitar as reservas dos três Moreno prevê investimento de US$ 1 bilhão com a perfuração de novos poços, já no processo anterior à declaração de comercialidade. E isso é só o começo. "Se confirmarmos que os recursos são maiores, então entramos na fase de desenvolvimento da produção. E aí estaremos falando em investimentos de US$ 10 bilhões, dos quais temos 35% como Repsol Sinopec, ou 21% como Repsol", explica Moreno.
A Repsol Sinopec também já está discutindo com a Petrobras e Statoil, suas sócias no BM-C-33, as alternativas para produzir e escoar o petróleo e o mais difícil, o gás. O Pão de Açúcar está em águas ultraprofundas (2.800 metros de lâmina de água) e a 195 quilômetros do Rio de Janeiro.
O gás encontrado no mar não pode ser queimado na atmosfera, como prevê a legislação, e agora se estuda alternativas para um horizonte além de 2016. Moreno explica que ainda não há decisão sobre o modelo de produção e estão em análise várias possibilidades. Uma delas é a instalação de uma plataforma do tipo Spar (sem armazenamento), onde o óleo e condensado e o gás seriam separados e transportados através de um oleoduto e um gasoduto até o continente.
Outra é instalar uma plataforma tipo FPSO e um gasoduto; ou uma FPSO combinada e uma plataforma flutuante para liquefação do gás natural (LNG FPSO). "Hoje não temos resposta sobre o projeto. Para mim, o que faz mais sentido é levar o gás à terra porque sempre se tem mais alternativas", disse.
Na avaliação de Moreno, até 2019 o Brasil terá excedentes de gás e nesse caso a única maneira de movimentar será através da liquefação. Na entrevista, o executivo evitou falar sobre a Argentina, onde o governo tomou da Repsol o controle da YPF. Enfatizou que os acontecimentos no vizinho não afetam o Brasil e se diz ansioso pela 11ª Rodada da Agência Nacional do Petróleo (ANP), ainda sem data.

3- Um pacote para o etanol
A mais importante conclusão que se pode tirar das informações de que se prepara, em Brasília, um pacote de incentivos para estimular o investimento na área de biocombustíveis - especialmente no segmento de açúcar e etanol - é a de que o governo deixou de ver o usineiro como mero aproveitador e oportunista. Passou a considerá-lo agente do crescimento econômico.
No ano passado, quando começou a faltar etanol no mercado, o governo Dilma o tratou como simples especulador com estoques. As duas principais decisões de então foram: reduzir a participação do etanol anidro na mistura com a gasolina (de 25% para 20%); e transferir a política do setor para a Agência Nacional do Petróleo, para que fosse enquadrado à política de combustíveis. Acompanharam as ameaças de confisco sobre exportações de açúcar, para que o usineiro aprendesse a ser responsável pelo suprimento de etanol.
Demorou para o governo ver que o setor não é o jogo de interesses de curto prazo que lhe parecia, mas que enfrenta disparada de custos sem contrapartida de retorno. Qualquer contratempo climático ou queda das cotações globais do açúcar - como as de hoje - pode bastar para derrubar a produção e inibir os investimentos.
No entanto, como já ocorre com o atendimento dado a todo o setor produtivo, o pacote em preparação leva todo o jeito de não passar de novo puxadinho, baseado na redução de alguns impostos, que não ataca os problemas de fundo.
A principal questão imediata, que atinge todo o setor de biocombustíveis e não só o do etanol, é a política de tabelamento dos preços dos derivados de petróleo, sobretudo da gasolina e do óleo diesel. Esse achatamento não debilita apenas a capacidade de investimento da Petrobrás. À medida que deprime também os preços do etanol, bloqueia investimentos tanto na cultura de cana-de-açúcar como na construção de usinas de destilação. E concorre para afundar um segmento altamente promissor da economia brasileira.
Isso significa que não basta distribuir alguma água benta para os usineiros para que seja garantida a recuperação do setor do etanol, hoje atolado em dívidas superiores a US$ 40 bilhões. É preciso que o governo reveja corajosamente a política de preços dos derivados de petróleo.
Mas só o restabelecimento da flutuação dos preços dos derivados do petróleo aos padrões internacionais não devolve competitividade estrutural ao setor sucroalcooleiro. Desdobramentos da crise global também poderiam baixar os preços do petróleo a níveis inferiores aos de hoje, a ponto de justificar o patamar atual dos preços dos combustíveis sem, no entanto, viabilizar o negócio do etanol.
E aí chegamos aos problemas dos altos custos estruturais, que derrubam a competitividade não só da área do açúcar e do álcool, mas também de todo o setor produtivo brasileiro: é a excessiva carga tributária, a precariedade e os custos elevados da infraestrutura, os onerosos encargos trabalhistas, a burocracia e tudo o mais.
Para resumir, ou o governo define claramente o que quer do setor de açúcar e do álcool e desenha uma política de longo alcance ou será responsabilizado pelo definhamento do setor de biocombustíveis - de que o governo Lula tanto se gabou.
*Texto originalmente publicado no jornal O Estado de São Paulo, em 01/06/2012.
Celso Ming
Jornalista

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