sábado, 7 de julho de 2012

IPGAP OIL & GAS & ENERGY NEWS - N° 90

I - NOTÍCIAS

1- Petrobras e UFRJ inauguram núcleo de biocombustíveis, petróleo e derivados
Fonte: Agencia Petrobras
A Petrobras e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) inauguraram, nesta sexta-feira (6), o Núcleo de Biocombustíveis, de Petróleo e de seus Derivados (NBPD), na Cidade Universitária, Ilha do Fundão (RJ). Com investimentos de R$ 5,2 milhões, o complexo de laboratórios vai realizar pesquisas nas áreas de biotecnologia e de engenharia química. Serão estudadas linhas de pesquisa voltadas para o desenvolvimento de processos químicos e bioquímicos, com base em matéria-prima renovável, para obtenção de biocombustíveis, e estudos avançados com petróleo e seus derivados.
Para o reitor da UFRJ, Carlos Levi, que participou da cerimônia, o modelo de organização do Núcleo, coordenando vários laboratórios, promove a articulação das equipes e garante eficiência nos resultados. “Tenho certeza que daqui surgirão vários trabalhos que vão sustentar iniciativas e projetos de grande alcance e interesse nacional”, afirmou.
O gerente de Gestão Tecnológica da Petrobras Biocombustível, João Norberto Noschang Neto, lembrou que o projeto de produção do etanol de segunda geração, produzido a partir do bagaço de cana, começou na UFRJ há oito anos. “Avançamos muito e, em 2015, vamos produzir comercialmente”. Ele afirmou que a companhia quer ter uma relação cada vez mais próxima da comunidade científica. “Vamos acompanhar, testar o resultado do trabalho e preparar nossa companhia e o nosso país para os desafios do abastecimento energético e do crescimento das fontes renováveis”, disse.
O coordenador do Programa Tecnológico de Biocombustíveis do Cenpes, Francesco Palombo, destacou a satisfação em inaugurar o novo núcleo de pesquisas, que ampliará a capacidade e as oportunidades em desenvolvimento na área de renováveis. “São grandes os desafios nesse setor e as expectativas aumentam com mais esse empreendimento”, falou.
Infraestrutura para pesquisas
Composto por 16 laboratórios e três plantas piloto, que ocupam uma área de 2 mil m2 na Cidade Universitária, o núcleo faz parte da Rede de Bioprodutos e dará suporte ao desenvolvimento dos estudos em uma escala maior, a fim de avaliar a viabilidade das pesquisas antes de desdobramentos industriais.
O diferencial desse núcleo será o trabalho de forma associada de matérias-primas renováveis e fósseis. No NBPD, será utilizado o conceito de Biorrefinaria, que se baseia na utilização de biomassa para a produção de biocombustíveis para transporte, bioprodutos e energia, seguindo diferentes plataformas tecnológicas - bioquímica, termoquímica e oleoquímica -, com mínima geração de resíduos e emissões.
No núcleo, há reatores de cultivo de microalgas, por meio dos quais será possível aprofundar os estudos sobre o potencial da biomassa como alternativa futura para produção de biocombustíveis. Além disso, serão realizadas pesquisas em processamento de biomassa, microbiologia e biologia molecular, bioprocessos, engenharia de produto, processos termoquímicos, desenvolvimento de catalisadores, produção e caracterização de biodiesel, biomateriais, fluidodinâmica computacional, automação e controle de processos, reologia e termo-análise, modelagem e cinética, formação de hidratos na Exploração e Produção de Petróleo, termodinâmica e fluidodinâmica computacional aplicadas à indústria petrolífera, emulsões água-óleo, entre outras.

2- Brasil será o primeiro a produzir biocombustível de algas em escala comercial
Fonte: Redação TN Petroleo
A See Algae Technology (SAT), empresa líder no fornecimento de infraestrutura para produção industrial de algas, anunciou nesta sexta-feira (6) a assinatura de um acordo para fornecer e instalar a sua primeira planta comercial para produção de Biodiesel e Bioetanol de Algas no Recife para o grupo brasileiro JB, um dos líderes na produção de etanol de cana na Região Nordeste do Brasil.
Sob um contrato de € 8 milhões, a SAT vai projetar uma fazenda de algas - que começará a ser construída no início de 2013 adjacente à usina de Vitória de Santo Antão - e fornecer a tecnologia de produção ao Grupo JB, além de supervisionar a instalação e garantir sua produtividade inicial.
Esse é o primeiro projeto comercial de produção de biocombustível a partir de algas no Brasil e no mundo. A tecnologia possui impacto ambiental menor do que outras fontes tradicionais de biocombustíveis, por alcançar grandes volumes de produção em uma área menor, sem ocupar terras férteis necessárias para plantio da agricultura.
Quando instalada, a fazenda será utilizada para produzir bioetanol a partir de algas geneticamente modificadas e biodiesel, bioquímicos e ração animal por meio de algas naturais. A unidade terá capacidade de produção de até 1,2 milhão de litros de biodiesel, ou até 2,2 milhões de litros de etanol por ano. A proteína das algas naturais será utilizada como substituição para a soja na alimentação de rebanhos na pecuária e na criação de peixes.
Para tanto, o projeto consumirá 5 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2) separadas da caldeira que queima bagaço de cana do Grupo JB, evitando que estas sejam emitidas para a atmosfera. Este processo é conhecido como Captura e Utilização de Carbono, uma das mais importantes estratégias para mitigação das mudanças climáticas atuais.
Separadamente, a SAT também fechou uma marketing joint venture com o Grupo JB para, em conjunto, comercializar a tecnologia de produção de alga da companhia no Brasil.
“Estamos muito orgulhosos de ter o Grupo JB não apenas como nosso primeiro cliente de tecnologia de produção de algas, mas também como nosso parceiro estratégico de marketing”, afirmou o CEO da SAT, Joachim Grill. “Acreditamos que nossa parceria marca um significante passo na evolução de nossa companhia e valida tanto a nossa tecnologia exclusiva quanto a viabilidade comercial das algas, especialmente para uso como ração e biocombustível”, acrescentou.

3- Espírito Santo quer ter o primeiro porto de águas profundas
Redação TN Petróleo/ Agência Petrobras
O Espírito Santo tem grandes chances de ser o primeiro estado a ser beneficiado com a construção de um porto de águas profundas, de acordo com o ministro dos Portos, Leônidas Cristino. O ministro esteve em Vitória para assinatura da ordem de serviço de dragagem e de aprofundamento do Porto de Vitória.
A obra de dragagem será realizada pela Secretaria de Portos com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no valor de R$ 108,8 milhões.
Atualmente está sendo realizado um estudo que irá definir a localização do porto de águas profundas. As opções são: Vitória (Porto de Tubarão), Vila Velha (mar a dentro, na região da Barra do Jucu), Aracruz (em Barra do Riacho) e Anchieta. A previsão é que essa análise esteja pronta antes do final deste semestre.
“Seria interessante que o Espírito Santo fosse incluído neste processo piloto da nova modelagem para construção de portos de águas profundas”, disse.
O governo Federal pretende trabalhar com uma nova modalidade de concessão e construção de portos com participação da iniciativa privada, como prevê o Plano Nacional de Logística Portuária (PNLP). Existem diferentes propostas, nada está definido, mas Brasília estaria a um passo de se comprometer com o Espírito Santo em primazia na construção de um porto em águas profundas dentro do novo modelo, acredita o governador Renato Casagrande (PSB).
“Sinto confiança na relação com o governo Federal. Nós estamos com um bom andamento nas obras do Porto de Vitória. Estamos recebendo investimentos como nunca havíamos recebido até agora. Isso mostra uma mudança de relação com Brasília no que diz respeito a infraestrutura”, disse.
No contrato da obra de dragagem está prevista a retirada de 1,8 milhão de metros cúbicos de sedimentos, 115 mil metros cúbicos de derrocagem (retirada de rochas submersas) e posteriormente, a manutenção por mais dois anos de 502 mil metros cúbicos, nos 7,5 km do canal.
Com a obra, o porto poderá receber embarcações de até 244 metros de comprimento e 12,5 metros de calado. A dragagem aumentará o volume de cargas no Porto de Vitória. Ainda estão previstas obras de contenção e ampliação do cais comercial (R$ 133,4 milhões), construção de berços com retroárea no porto da capital (R$ 140 milhões) e estruturação do pátio de estocagem para carga pesada no cais comercial (R$ 40 milhões).

4- Modelo do pré-sal atrasa expansão, aponta Harvard
O estudo de Harvard sobre o panorama do petróleo em 2020 traz duas notícias para o Brasil. Por um lado, o país deve ter a quarta maior expansão de produção do mundo. Por outro, essa expansão poderia ser duas vezes maior se o modelo de exploração do pré-sal fosse diferente.
Leonardo Maugeri, autor do estudo, estimou em 6 milhões de barris por dia a capacidade adicional de produção brasileira em 2020. O número, porém, foi ajustado para 4,5 milhões de barris devido às limitações da Petrobras, em cujas mãos ficou quase exclusivamente o pré-sal.
Com isso, o Brasil se torna o sexto maior produtor do mundo, ao lado da China, passando a Venezuela, a Noruega e o México.
A projeção é parecida com a análise feita pelo grupo de Alexandre Szklo, da Coppe-UFRJ. Os pesquisadores do Rio estimam em 5,6 milhões de barris por dia o potencial brasileiro em 2020, mas ajustaram o valor final para 3,8 milhões de barris devido a problemas regulatórios.
"Os requisitos financeiros são muito altos. Não podemos botar todo o ônus sobre uma empresa só", afirma Maugeri a respeito do pré-sal e da Petrobras. "Quando você opera num ambiente tão difícil, precisa de muito mais operadores para ter um resultado mais rápido."
Szklo concorda que a decisão do governo de ter a Petrobras como principal operadora das novas reservas e a política de conteúdo nacional para as sondas atrasam a produção. Ele, porém, alerta:
"Isso não é uma corrida de 100 metros rasos, é uma maratona. O importante é saber como o pré-sal vai gerar o máximo valor para a sociedade em um tempo longo".
Segundo Szklo, o Brasil não pode entrar em produção excessiva de óleo agora, pois, com juros altos, pouca inovação e indústria pouco madura e vulnerável ao dólar, dinheiro demais do pré-sal tornaria o país vítima da doença holandesa -nome dado à desindustrialização advinda da exploração de uma commodity muito rentável.
Por outro lado, afirma, existe um risco na opção de operar as novas reservas com uma empresa cujo acionista majoritário é o governo. "Sempre há outros projetos que podem atrasar o desenvolvimento do pré-sal."
Claudio Angelo
Fonte: Folha de S. Paulo

5- Fusões e aquisições no setor elétrico devem crescer no Brasil em 2013
As fusões e aquisições no setor elétrico brasileiro devem aumentar no início do próximo ano. Aos poucos, os temores com a Europa diminuirão e os investidores terão uma visão mais clara sobre o crescimento da maior economia da América Latina, aponta o escritório de advocacia que auxilia a chinesa State Grid a comprar ativos no Brasil.
"Há muitos projetos e, quando as condições financeiras forem mais favoráveis, eles serão concretizados", afirma José Roberto Martins, sócio da Trench, Rossi e Watanabe, escritório encarregado de projetos de energia, mineração, petroquímica e infraestrutura. A empresa ajudou a State Grid a comprar os ativos brasileiros da espanhola Actividades de Construccion y Servicios, por R$ 1,86 bilhão.
É nas áreas de transmissão e energia eólica que Martins espera a maior consolidação. "Não há como evitar fusões e aquisições no setor de energia eólica. Acredito que veremos muito disso nos próximos dois anos", diz em entrevista a Dow Jones. "O setor de transmissão também tem muitas oportunidades", continuou.
As empresas europeias ajudaram muito a expandir a rede de energia brasileira, mas a atual crise no continente levou algumas delas a se desfazer de ativos.
Os temores continuam grandes por causa da crise soberana europeia e do crescimento abaixo do esperado do Brasil. Por isso, as fusões não devem aumentar tanto neste ano, segundo Martins. O excesso de dependência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para obtenção de empréstimos é outro impedimento para as aquisições.
"O modelo de empréstimo até agora foi via BNDES, com o setor elétrico recebendo uma boa parte dos recursos. Mas, com a demanda de outras áreas, não deve ser suficiente para o que o setor elétrico precisa", avalia Martins. Por causa da tradicional dependência das empresas brasileiras do banco público, tudo é padronizado e há uma criatividade limitada das companhias para procurar financiamento, afirma.
Com a produção industrial brasileira em desaceleração, as companhias elétricas também enfrentam o risco de terem sobrestimadas a demanda e as receitas. "A indústria elétrica brasileira tem muitos riscos pré-operacionais", diz Martins. "Você precisa ter um produto bem definido e que ofereça algumas garantias", conclui.
Fonte: Valor Online

6- V&M inagura fábrica no RJ
A V&M do Brasil inaugurou sua fábrica de acessórios instalada em sua base de serviços na cidade de Rio das Ostras (RJ). O objetivo da empresa é aumentar a gama de produtos e alcançar a excelência no atendimento a seus clientes através da produção de acessórios premium para completação de poços petrolíferos utilizando sua tecnologia V & M Tube Alloy.
A escolha pela planta de Rio das Ostras para a construção da nova fábrica deve-se à sua localização estratégica, já que está a 30 km de Macaé, cidade conhecida como "A Capital do Petróleo Brasileiro" por deter cerca de 90% da atividade no país.
Na unidade fluminense, serão executadas atividades de inspeção, fabricação e reparo de tubos e acessórios para a exploração de petróleo. Os equipamentos instalados em Rio das Ostras têm a capacidade de executar a usinagem externa e interna nos tubos e acessórios, permitindo mais flexibilidade para o atendimento das necessidades de seus clientes.
Fonte: energiahoje


II – COMENTÁRIOS

1- Petróleo dá reviravolta até 2020, diz analista
Fonte: Folha de São Paulo
A produção de petróleo no mundo está sofrendo um aumento sem precedentes, o que pode levar a uma crise de superprodução antes do fim da década. A conclusão é de um estudo da Universidade Harvard, nos EUA, que põe o Brasil entre os seis maiores produtores de óleo em 2020.
A análise foi feita pelo italiano Leonardo Maugeri, ex-diretor da gigante petroleira Eni. Pesquisador-visitante do Centro Belfer para Relações Internacionais, ele é considerado um dos principais analistas do setor no mundo.
Somando dados de produção dos maiores campos de petróleo do globo, Maugeri estimou que o suprimento do combustível saltará de 93 milhões de barris/dia em 2011 para 110,6 milhões em 2020, provavelmente superando em muito a demanda.
Hoje o mundo já tem cerca de 5 milhões de barris/dia em "capacidade ociosa". Se a demanda continuar fraca por causa da recessão e a capacidade de fornecimento continuar a crescer, a superprodução poderá chegar antes do fim desta década, afirma.
Os dados de Maugeri são uma pancada na tese do "pico do petróleo", segundo a qual as reservas são finitas e várias partes do mundo já alcançaram seu pico de produção. Daqui para a frente, reza a teoria, o óleo vai ficar cada vez mais escasso e caro.
"As pessoas do mercado nunca levaram a tese do pico do petróleo a sério", disse Maugeri à 'Folha'. "Sabemos que preço e tecnologia são os únicos fatores reais que controlam o fornecimento".
Tecnologia é justamente a razão do aumento na produção. Ele será puxado, afirma o estudo, pela retomada da produção no Iraque e, principalmente, pela exploração de fontes não convencionais de petróleo em três países: nos EUA, no Canadá e no Brasil.
O maior acréscimo virá dos EUA, graças a uma tecnologia conhecida como fraturamento hidráulico ("fracking", em inglês). Ela permite extrair petróleo de formações rochosas antes inacessíveis.
Efeito Geopolítico
A exploração por essa via começou em 2007. Em 2020, Maugeri calcula em 4,17 milhões de barris o petróleo adicional extraído dessa forma, o que fará dos EUA o segundo maior produtor, atrás somente da Arábia Saudita.
A precondição para essa expansão toda é um preço mínimo de US$ 70 por barril, que viabilize a extração nos folhelhos dos EUA, nas areias betuminosas do Canadá e no pré-sal brasileiro.
Isso produziria um efeito colateral geopolítico: "O centro de gravidade do petróleo no fim desta década não será mais o Oriente Médio", diz.
"Isso não significa que o hemisfério ocidental se torna independente", afirma Alexandre Szklo, professor de Planejamento Energético da Coppe-URFJ. "Mas põe os EUA numa posição muito mais confortável".
Segundo Maugeri, "o mercado toma consciência de que o petróleo iraniano não é mais necessário". Ele atribui a alta do barril para US$ 100 nesta semana a uma "reação psicológica" à crise persa, não a incertezas em relação ao suprimento do produto.

2- Falta de política para combustíveis gera distorções no mercado
A falta de uma política para o setor de combustíveis no Brasil criou uma situação de escassez generalizada, aumentando as importações de diesel, gasolina e até mesmo etanol, na contramão da desejada autossuficiência energética.
Desde 2000, o Brasil nunca importou tanta gasolina, diesel e etanol.
Esse panorama é reflexo da capacidade limitada de refino e do aumento expressivo da demanda por gasolina e diesel, puxada por uma política de subsídios e pelo incentivo do governo ao setor automobilístico.
Para garantir o suprimento da demanda, foram importados em média, até maio de 2012, 73 mil e 148 mil barris por dia de gasolina A e diesel, respectivamente, representando crescimento de 98% para a gasolina e redução de 8% para o diesel.
Apesar da queda na importação de diesel observada até maio de 2012, a quantidade média importada, de 149 mil barris por dia, é substancialmente maior do que a verificada no ano 2000, de 100 mil barris por dia.
O aumento da importação é resultado do descasamento entre o aumento da demanda e a estagnação da produção doméstica.
Ao comparar a média de vendas internas de gasolina e diesel para as distribuidoras no ano de 2012 com as do ano de 2000 verificam-se aumentos de 67% e de 46%, respectivamente.
Entretanto, o crescimento da produção nacional de derivados no período, de 24%, não foi suficiente para acompanhar o ritmo de crescimento da demanda.
Enquanto do lado da oferta a perspectiva é de aumentos limitados, a demanda por combustíveis fósseis continua a ser impulsionada pela concessão de subsídios velados, uma vez que os preços domésticos não vêm acompanhando as variações dos preços internacionais dos derivados.
Mesmo os reajustes concedidos na refinaria para aliviar a pressão sobre o caixa da Petrobras vieram acompanhados de reduções da Cide, mantendo os preços constantes para o consumidor final.
Dessa forma, o preço doméstico não fornece o sinal correto ao consumidor, que não consegue fazer uma escolha eficiente e continua a demandar o combustível a despeito da elevação do preço internacional.
Sem a correta sinalização de preço para os combustíveis fósseis, o setor de biocombustíveis acabou prejudicado, em especial o etanol, que perdeu competitividade diante da gasolina, comprometendo o futuro do etanol na matriz de combustíveis no Brasil.
Aliada aos impactos da crise internacional sobre as condições de financiamento, a perda de competitividade culminou na redução de investimentos, na queda da produção e, mais uma vez, no aumento das importações.
A ausência de políticas de longo prazo e de incentivos econômicos corretos está gerando distorções e desequilíbrios no mercado de combustível.
O reflexo disso é o desalinhamento entre demanda e oferta internas, traduzindo-se no aumento das importações, no desequilíbrio de preços relativos e na redução de investimentos.
*Texto originalmente publicado no jornal A Folha de São Paulo, em 16/07/12.
Adriano Pires
Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

3- Internacionalização da China abre oportunidades ao Brasil
Neste mês aconteceu o 22º encontro anual de agronegócios, alimentos e bioenergia, congregando cerca de 400 empresários em Xangai, na China.
Em termos de oportunidades, a população chinesa deverá crescer para 1,4 bilhão de pessoas em 2015, em 1,45 bilhão em 2020 e em 1,5 bilhão em 2030, quando deverá se estabilizar.
Outro fato é a evolução da urbanização, que vai de 55% em 2015 para 60% em 2020, atingindo incríveis 70% em 2030. Isso significa quase 300 milhões de pessoas indo do campo para as cidades. A renda per capita evolui de US$ 5.500 em 2015 para US$ 15 mil em 2030.
O impacto calculado desses fatos é que o consumo per capita de carnes pula de 57,3 quilos por habitante em 2015 para 68,6 quilos em 2030. Serão quase 12 quilos a mais por chinês. Isso abre amplas oportunidades de negócios.
Quando indagados sobre quais são os desafios principais, foram citados custos e qualificação de mão de obra, que cresceram 30% nos últimos dois a três anos.
Novas regulamentações governamentais referentes à segurança do alimento (a China é famosa em contaminações) estão elevando os custos de produção e restringindo os componentes utilizados nas rações. Pela concentração da produção, doenças e epidemias se espalham rapidamente.
Existem também pressões cada vez mais fortes pela sustentabilidade, em como conciliar o crescimento necessário com a restrição de recursos e as questões ambientais.
Outras preocupações envolvem a volatilidade do mercado de grãos (componentes das rações), logística no interior, crédito insuficiente e ainda a política agrária.
As políticas governamentais de desenvolvimento urbano avançam sobre áreas de agricultura, trazendo mais competição pela terra. Fora isso, existe amplo debate sobre a contaminação e a disponibilidade de água e de solo na China.
A boa mensagem para a produção brasileira é que os custos de produção sobem muito na China também, bem como o consumo. Esses fatos levam os empresários chineses a destacarem a necessidade de internacionalizar cada vez mais suas empresas, e aqui abrem-se as oportunidades ao Brasil, em receber esses investimentos para abastecer parte do mercado chinês com os excedentes de alimentos aqui produzidos.
A mensagem dada aos chineses é que não é necessário comprar terras, mas sim "originação" (redes de suprimento) de produtos no Brasil. Após 20 dias, chega-se cada vez mais à conclusão de que a China fascina.
*Texto originalmente publicado no jornal Folha de São Paulo, em 30/06/12
Marcos Fava Neves
Professor titular de planejamento e estratégia na
FEA/USP (campus Ribeirão Preto) e coordenador científico do Markestrat.

Nenhum comentário:

Postar um comentário