domingo, 29 de julho de 2012

IPGAP OIL & GAS & ENERGY NEWS - N° 92

I - NOTÍCIAS

1- Petrobras aprova contratos para construção de plataformas do pré-sal
Fonte: Redação TN Petróleo
A Petrobras, juntamenteo com seus parceiros BG Group, Petrogal Brasil e Repsol Sinopec, e por meio de suas afiliadas Tupi-BV e Guará-BV, aprovou a assinatura de dez contratos para a construção e integração dos primeiros seis módulos topside (planta de processo, utilidades e alojamento) das oito plataformas replicantes do tipo FPSO (unidade que produz, armazena e transfere óleo e gás). Elas estão sendo construídas no Brasil para o desenvolvimento dos projetos do pré-sal nos blocos BM-S-9 e BM-S-11, localizados na Bacia de Santos. Os investimentos somam US$ 4,5 bilhões.
O processo de contratação dos dois módulos de topsides e dos pacotes de integração restantes deverá ocorrer nos próximos 18 meses.
Paralelamente, o consórcio do Bloco BM-S-11 optou por iniciar o processo de contratação de pelo menos uma FPSO adicional, a ser afretada e usada em áreas que necessitam de plantas de processo diferentes daquela adotada para as replicantes.
O consórcio do Bloco BM-S-11 é operado pela Petrobras (65%), em parceria com a BG E&P Brasil (25%) e Petrogal Brasil (10%). Já o consórcio do Bloco BM-S-9 é operado pela Petrobras (45%), em parceria com a BG E&P Brasil (30%) e Repsol Sinopec Brasil (25%).Os contratos serão assinados nos próximos dias.
Segundo a nota da estatal, divulgada na quinta-feira (19), serão contratadas para a realização dos serviços as empresas DM Construtora de Obras/TKK Engenharia, IESA Oleo e Gas, Tome Engenharia/Ferrostaal Industrieanlagen GmbH, Keppel FELS do Brasil, Jurong do Brasil Prestação de Serviços e Mendes Jr Trading Engenharia/OSX Construção Naval. Os contratos serão assinados nos próximos dias.

2- Brasbunker entrega primeiro OSRV construído no Brasil
Fonte: Redação TN Petróleo
A Brasbunker entregou sua mais nova embarcação, o Oil Spill Recovery Vessels (OSRV) Mar Limpo II, que irá ser operado por uma equipe da própria empresa, atendendendo a um contrato com a Petrobras - com duração de 8 anos, prorrogáveis por mais oito. A embarcação, projeto do Estaleiro São Miguel, executado em parceria com a Rolls Royce, é a primeira a ser construída no Brasil e será totalmente dedicado a atuar em áreas de vazamentos. O Mar Limpo II somou investimentos da ordem de R$ 71 milhões, com mais de 70% de conteúdo local.
Este é o primeiro da frota de embarcações que serão finalizadas pela companhia até 2014 (Mar Limpo III,IV,V,VI e VII), o que dará qualidade, agilidade e segurança às operações de recolhimento de óleo no mar, seja nas áreas do pós ou pré-sal.
O Mar Limpo II reúne o estado da arte em equipamentos para atuação em vazamentos no oceano, como radares capazes de detectar derramamentos de óleo em um raio de 20km, mostrando inclusive a espessura da mancha, e um sistema de posicionamento dinâmico que dá inteligência às ações no mar. Este OSRV é o único projetado exclusivamente para esta função.
A embarcação conta com um skimmer que tem capacidade de drenar 250 mil litros de resíduos por hora, além de tanques para o armazenamento de até 750 mil litros de material coletado - a embarcação drena o equivalente a 250 caixas d’água de 1.000 litros cada por hora. Possui também o workboat à bordo, que permite se aproximar da mancha de óleo e cercá-la com rapidez, impedindo que o derramamento se expanda - um investimento de cerca de R$ 2,4 milhões. Outra importante ferramenta é o firefight, com alcance para extinguir focos de incêndio em líquidos inflamáveis.
A construção do navio levou 22 meses, e atende a todos os padrões internacionais de qualidade, economia, conforto e sustentabilidade - todos os resíduos produzidos durante a operação são tradados. Com uma tripulação de 12 pessoas, o Mar Limpo II conta com backup dos principais equipamentos, o que garante ainda mais segurança às operações.
Para Renato Nascimento, presidente do Grupo Brasbunker, este é um marco da capacidade da indústria naval do Brasil.
“O Estaleiro São Miguel está orgulhoso de ter desenvolvido o projeto do Mar Limpo II dentro dos prazos e dos orçamentos. Entregar um navio com tanta complexidade, e com recursos inéditos no país, é a prova de que estamos preparados tanto tecnologicamente como profissionalmente para dar conta das demandas que cada vez serão mais intensas na crescente indústria do Petróleo e Gás”, afirma.
O executivo destaca que o próximo OSRV do grupo será entregue com menos dois meses de tempo na produção, e que este tempo deverá ser o mesmo gasto para construir os demais navios que começarão a renovar a frota nacional.
Para a construção do navio, o Grupo Brasbunker gerou, entre empregos diretos e indiretos, 3 mil postos de trabalho.
Especificações Técnicas:
Mar Limpo II
- PSV (Plataform Supply Vessel - Carrying of pipes and deck cargo, Liquid cargo Fuel Oil and Fresh Water);
- OSRV (Oil Spill Recovery Vessel - Flash point below 60 degr. C);
- Oil Spill Dispersing;
- External Fire Fighting IMO Class I;
- Dynamic positioning DP-1;
- Clean Class and Confort Design;
- Comprimento Total - 61,70 m;
- Boca - 14,0 m;
- Calado - 5,0 m.
Notação de Classe: Det Norske Veritas (DNV) +1A1, SF, E0, OILREC, Fi-Fi I, DYNPOS AUT (DP1), Clean Class.

3- Cresce o potencial para novas fontes renováveis
Fonte: Valor Econômico
A eletricidade gerada de fontes eólica, solar e de biomassa tem potencial para ocupar em breve uma maior fatia na matriz energética brasileira. As condições são favoráveis: o país domina a tecnologia, a indústria está se consolidando, a demanda existe, os investimentos estão sendo feitos e os preços são competitivos. A produção oriunda dessas fontes pode ser um complemento à das hidrelétricas, que respondem por mais de três quartos da energia no Brasil.
Das três fontes de energia, a eólica e a de biomassa já são consideradas maduras. Com o início da operação de novos parques e a entrega da energia contratada, as projeções são de que ao final de 2016 o Brasil terá 8 mil Megawatts (MW) de potência instalada de energia originada do vento. Confirmado esse cenário, a participação da energia eólica na matriz energética nacional saltará dos atuais 1,2% para 5,5%.
A espanhola Gestamp Wind Steel instalou no Recife uma fábrica de torres eólicas que abastece empresas como GE, Alstom e Vestas. A maioria dos projetos se concentra entre os estados da Bahia e do Ceará, diz Paulo Coimbra, diretor da empresa. Resultado de um aporte de R$ 100 milhões, a planta está ativa desde 2010. No ano passado produziu 230 torres e a expectativa é encerrar 2012 com 450 unidades. A empresa, que fatura R$ 450 milhões, estuda abrir uma nova unidade fabril na região Sul.
A argentina Impsa Wind tem uma fábrica de aerogeradores em Suape (PE) e pretende construir outra unidade perto de Porto Alegre, que deve entrar em operação em 2013. Os investimentos na primeira etapa somam R$ 100 milhões e a capacidade de produção é de 140 turbinas por ano. Responsável por parques eólicos no Ceará e em Santa Catarina, com potência instalada de 100 e 222 MW, a Impsa Wind quer ter participação expressiva no mercado brasileiro, diz Luiz Menghini, vice-presidente da empresa.
Na biomassa, a oferta de energia cresceu 7,1% entre 2010 e 2011, passando de 34.940 para 37.411 Gigawatts/horas (GWh). Uma novidade no mercado é a tecnologia de Pré-Hidrólise (PH), desenvolvida pela Senergen Energia Renovável, que aproveita a biomassa de fontes ricas em celulose, como eucalipto, sabugo de milho, casca de coco verde, bagaço de cana.
A sua aplicação substitui a queima do bagaço da cana para a geração de energia elétrica, explica Roberto Paschoali, presidente da empresa. "A vantagem é o baixo custo de produção", diz, A Senergen tem uma fábrica em Lorena (SP) onde, através da tecnologia de Conversão de Baixa Temperatura (CBT), transforma por dia 20 toneladas de resíduos em matéria-prima para geração de energia limpa. A planta iniciou a suas atividades em maio, depois de um investimento de R$ 15 milhões em sua construção. Uma nova unidade fabril será erguida também em Lorena graças a um aporte de R$ 30 milhões aprovado pelo Finep (Financiadora de Estudo e Projetos).
Uma resolução da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), de abril, regulamentando o uso da geração distribuída com fontes renováveis incentivadas é tida como o "empurrão" que faltava para a energia solar deslanchar no Brasil. Isso porque estabelece regras de conexão à rede elétrica da energia gerada a partir de painéis fotovoltaicos de até 1 MW e cria o conceito de compensação, que concede crédito equivalente ao excedente de energia gerada injetada na rede.
O Brasil é favorecido por altos índices de insolação em grande parte do território, o que faz da energia solar uma opção bastante atraente não apenas em áreas afastadas que não têm acesso a rede elétrica convencional, mas também em centros urbanos. "Os prédios públicos e escritórios que ficam com o ar-condicionado ligado o dia inteiro são um fator de carga muito elevada", observa Clarice Ferraz, pesquisadora do Grupo Economia de Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (GEE/UFRJ).

4- Brasbunker avalia abrir o capital
Fonte: Valor Econômico
Em setembro de 2010, o BTG Pactual comprou uma fatia do capital da Brasbunker, holding com atuação crescente em serviços de apoio marítimo. A entrada do banco levou a empresa a fazer uma reestruturação que deve deixá-la pronta para abrir o capital em 2014. A listagem das ações em bolsa vai depender das condições de mercado, mas a direção da empresa está otimista com o crescimento do negócio. Em 2015, a Brasbunker deverá faturar R$ 1,18 bilhão, uma vez e meia a receita projetada para 2012, de R$ 460 milhões.
"Devemos estar preparados para abrir o capital em 2014", disse Marcelino Nascimento, presidente da Brasbunker. Ele afirmou que o BTG levou para a empresa padrões de governança e uma nova cultura, além de alterar práticas internas. O banco nomeou o diretor financeiro e a empresa trocou de auditoria passando a ser auditada por uma das grandes empresas do setor, disse Nascimento. A empresa foi criada pelo pai e por um tio dele na década de 1960. Hoje a holding familiar Rio Alva tem 60% do grupo e os 40% restantes estão em mãos de um fundo de participações em ações gerido pelo BTG.
A Brasbunker começou fazendo o transporte marítimo de combustível em portos do país, atividade que ainda mantém e é responsável por 29% da receita líquida do grupo. O apoio marítimo, que presta serviços à indústria de petróleo, responde por 48% da receita e a operação de proteção ambiental, outra das atividades, por 23%. Em 2015, a atividade offshore deve responder por 56% da receita da Brasbunker, o transporte marítimo de combustível, por 18%; a atividade ambiental, por 16%, e um novo negócio, a operação de robôs submarinos, por 10%.
No fim de 2011, a Brasbunker comprou 70% da empresa RRC Robótica, de Macaé (RJ), da área de operações submarinas. Aquisições como essa vão assegurar novos contratos e receitas para a Brasbunker e vão ajudar a alavancar o crescimento da empresa, disse Nascimento. Este ano a RRC participou de licitação da Petrobras para contratar serviços de robôs submarinos.
Nascimento disse que a empresa apresentou a melhor proposta para fornecer os robôs à Petrobras e, segundo ele, a expectativa é que o contrato possa incluir 24 robôs, um pacote cujo valor total é de R$ 1,2 bilhão. A RRC tem hoje cerca de 30 empregados, número que deve chegar a quase 300 pessoas caso se confirme o contrato com a estatal.
Nascimento disse que os robôs serão fornecidos pela americana Schilling, mas em um segundo momento os equipamentos devem passar a ter partes feitas no Brasil. Procurada, a Petrobras não se pronunciou. A entrada nesse negócio vai levar a Brasbunker a investir R$ 2,2 bilhões em cinco anos. A maior parte dos recursos irá para a construção de navios de apoio offshore. O plano considera construir 23 desses navios até o fim de 2016.
A ampliação da frota também vai sustentar o crescimento da receita do grupo. No total, entre navios para o transporte de combustível e barcos de apoio marítimo, a Brasbunker terá, a partir de agosto, 94 embarcações em operação. O número do apoio inclui navios próprios e de terceiros com os quais a Brasbunker tem acordos operacionais.

5- Americana Anadarko desiste da venda de seus ativos no Brasil
A petrolífera americana Anadarko engavetou os planos de venda de seus ativos no Brasil por não ter recebido preços aceitáveis, sinal da perda de entusiasmo das grandes empresas ocidentais com o país, outrora considerado a fronteira mais interessante no mundo do petróleo.
A Anadarko confirmou ao "Financial Times" que estava "atualmente em compasso de espera em relação a quaisquer vendas no Brasil". O grupo não quis dar mais detalhes sobre o assunto.
De início, petrolíferas como Statoil, Total e Maersk Oil haviam mostrado interesse nas operações, avaliadas em mais de US$ 3 bilhões. No fim das contas, no entanto, os ativos não atraíram um preço alto o suficiente, segundo fontes a par do assunto.
A decisão da Anadarko coloca em evidência a perda de entusiasmo das petrolíferas estrangeiras com o Brasil, anteriormente considerado o ativo mais "quente" do setor. "Foi fogo de palha", disse Fadel Gheit, analista de petróleo na Oppenheimer & Co., em Nova York. "Há outras áreas economicamente mais viáveis pelo mundo."
Há apenas cinco anos, o país era visto como a maior fonte de atração para a indústria petrolífera. Havia descoberto vastas quantidades de petróleo abaixo de uma grossa camada de sal no Atlântico e as principais petrolíferas estavam desesperadas para ficar com uma parte disso.
Nos últimos anos, entretanto, a atração exercida pelo chamado "pré-sal" perdeu força. O Brasil não vendeu nenhuma licença marítima desde as grandes descobertas em 2007. Paralelamente, a Petrobras, encarregada dos novos contratos no pré-sal, está às voltas para atingir suas próprias previsões de aumento de produção. Recentemente, reduziu as metas de produção até 2016. A OGX, outra grande empresa local do setor, também encolheu as projeções.
Os processos e multas por vazamentos de petróleo na costa do Rio de Janeiro contra a Chevron e sua sócia nas perfurações Transocean também esfriaram a comunidade de investidores.
Todos esses fatores complicaram a venda dos ativos da Anadarko. "As pessoas estão com um olhar mais clínico em relação ao Brasil nos dias de hoje", disse um executivo especializado em fontes de energia que trabalha para um banco ocidental. "Estão dizendo: Só porque é o Brasil, não devemos pagar acima do que vale."
Também há outras questões, como a insistência do governo em exigir altos graus de conteúdo local nas novas plataformas de perfuração marítimas e nas instalações de produção. "As pressões de custo e limitações de capacidade estão impactando o preço que as companhias estão dispostas a pagar por ativos brasileiros", afirmou o executivo de banco.
O contexto político também torna o Brasil menos atraente. "Agora, há muita interferência política no setor petrolífero", disse um importante executivo de uma grande petrolífera ocidental.
As decepções levaram algumas empresas a sair. A Exxon Mobil abandonou seu único bloco no país neste ano, após encontrar três poços secos em suas perfurações.
Há, contudo, um grupo de petrolíferas estrangeiras cujo entusiasmo não diminuiu - as que entraram no Brasil há muitos anos e agora são parceiras da Petrobras nos campos do pré-sal. "Aqueles entre nós que apostaram no Brasil quando ninguém estava interessado se deram bem", disse o executivo de uma das empresas que entraram cedo no Brasil.
Um exemplo é o BG Group, que adquiriu uma área na Bacia de Santos em 2000. A empresa projeta que suas operações no Brasil - incluindo participações em imensas descobertas como as dos campos de Lula e Sapinho - cheguem a uma capacidade instalada de 2,3 milhões de barris por dia de até 2017 e estejam produzindo 600 mil barris diários em 2020. Essas estimativas não foram afetadas pelas novas metas da Petrobras.
Mesmo a primeira leva de empresas no Brasil, no entanto, teme que fatores como a lei de conteúdo local estejam tornando o país um lugar mais complicado de se fazer negócios. "Cria gargalos e torna as coisas mais caras", diz o executivo de uma petrolífera ocidental.
Anousha Sakoui e Guy Chazan
Fonte: Financial Times para Valor Econômico


II – COMENTÁRIOS

1- As ameaças da nova geopolítica do petróleo
Os combustíveis fósseis vivem um novo ciclo de expansão, cujos resultados vão alterar de maneira drástica a geopolítica da energia global. O pré-sal brasileiro é parte deste processo, mas seu epicentro decisivo encontra-se nos Estados Unidos. Longe do declínio previsto por muitos especialistas e sintetizado na expressão "pico do petróleo", a capacidade da produção mundial diária deve passar dos atuais 93 milhões de barris para 110 milhões em 2020. Dois são os requisitos fundamentais deste verdadeiro "oil revival", que tem mobilizado investimentos superiores a US$ 500 bilhões anuais, desde 2010: o primeiro é que o preço do barril do petróleo esteja acima de US$ 70 e o segundo é que sejam vencidas as barreiras socioambientais que ameaçam este avanço.
Sob o ângulo geopolítico, dos quatro protagonistas centrais desta ampliação da oferta (Estados Unidos, Canadá, Brasil e Iraque) três encontram-se fora do círculo de influência do Golfo Pérsico, o que modifica completamente a ligação entre segurança nacional e energia, sobretudo nos Estados Unidos que devem tornar-se a segunda potência petrolífera mundial até 2020. Esta virada torna-se mais provável caso os preços mantenham-se elevados ao menos até 2015, o que estimulará os investimentos necessários a que ela se concretize.
Estas são algumas das conclusões de um trabalho fundamental lançado em junho pelo Belfer Center for Science and International Affairs da Harvard Kennedy School. Leonardo Maugeri, seu autor, hoje pesquisador visitante sênior da prestigiosa instituição, é uma das grandes autoridades mundiais em petróleo e dirigiu a ENI, grande multinacional italiana na área de petróleo e gás. Não há qualquer exagero no título de seu estudo: "Petróleo, a próxima revolução" que vem ocupando um espaço crescente na imprensa e nos círculos especializados em energia no mundo todo.
O que está em jogo nesta discussão são os próprios caminhos pelos quais vai passar o processo de descarbonização da economia global. Mais do que constatar fatos objetivos e estabelecer hipóteses sobre as tendências daí decorrentes, o trabalho de Maugeri preconiza uma rota em que a exploração crescente de petróleo seria compatível com as exigências socioambientais das sociedades contemporâneas. Por um lado, Maugeri procura mostrar que os problemas das novas tecnologias de exploração do petróleo (o fraturamento hidráulico, "fracking", em inglês) são menores do que se imagina.
A infiltração de gás natural nos aquíferos, o envenenamento do sub-solo por meio do uso excessivo de produtos químicos e mesmo os pequenos terremotos em algumas áreas de exploração não passam, a seu ver, de episódios esporádicos derivados de técnicas mal aplicadas. Quanto às consequências do aumento da oferta sobre o aquecimento global, estes são temas que a captura e armazenagem de carbono, bem como a geoengenharia, seriam capazes de enfrentar. Em outras palavras é um caminho em que mais extração e maior uso de combustíveis fósseis em nada comprometem o objetivo de luta contra o aquecimento global.
Apesar de sua importância o trabalho de Leonardo Maugeri deixa na sombra ao menos dois problemas decisivos desta nova geopolítica do petróleo. O primeiro foi denunciado na parte do recém publicado Global Environmental Outlook referente à América do Norte. Estados Unidos e Canadá, diz o trabalho, têm sido "lentos na expansão de fontes renováveis de energia, capazes de reduzir as emissões de gases de efeito estufa". As oportunidades de negócios trazidas por estas novas técnicas de extração de petróleo são imensas. E na prática seu aproveitamento reduz o potencial de investimentos e de inovação nas fontes renováveis. Em 2010, por exemplo, dos US$ 710 bilhões gastos em energia, no mundo, apenas US$ 70 bilhões foram para renováveis, como mostra um importante relatório das Nações Unidas.
Os efeitos desta revitalização do petróleo são de longo prazo: cada dólar investido em energias fósseis (não só na extração, mas também na armazenagem e na distribuição) encarece os investimentos em fontes renováveis. Isso não apenas para o petróleo e o gás, mas para o conjunto da indústria petroquímica. Por mais promissoras que sejam as inovações tecnológicas voltadas à exploração do petróleo em locais e circunstâncias inimagináveis há alguns anos, elas trazem o inevitável inconveniente de fortalecer as estruturas materiais e institucionais da economia baseada em combustíveis fósseis. Quanto a captura e a armazenagem do carbono o jornalista neozelandês Gordon Campbell lembra que, até aqui, trata-se de uma técnica que foi pouco além da prancheta dos engenheiros.
O segundo problema do revigoramento recente da exploração de combustíveis fósseis está em seus custos energéticos. Nenhum dos defensores da tese do pico do petróleo imagina que o precioso líquido negro vá desaparecer das profundezas do planeta. A questão está nos custos de sua exploração. Estes custos devem ser medidos não apenas em termos econômicos, mas também energéticos, com base na pergunta: quanta energia se gasta para obter uma unidade de energia sob a forma de petróleo? Em 1930 a resposta era de 1 para 100. Os poços eram tão férteis que, com técnicas energeticamente pouco dispendiosas, obtinha-se muito petróleo.
O pico do petróleo consiste, em grande parte, no fato de que estes rendimentos vão caindo com o passar do tempo. A média mundial hoje gira em torno de dez unidades de energia para cada uma que se investe na extração de petróleo. E mesmo com as técnicas revolucionárias aplicadas no fraturamento hidráulico norte-americano, as médias das jazidas mais promissoras está muito aquém disso: no local mais emblemático destas novas formas de exploração, no Estado de North Dakota, a média é de apenas quatro unidades de energia para cada uma investida na sua obtenção. Nas areias asfálticas do Estado de Alberta, no Canadá, a proporção é de apenas três para um.
Quando se somam a estes custos energéticos aqueles embutidos na armazenagem e na captura do carbono (condição básica para que o aumento da oferta não agrave ainda mais o aquecimento global) o resultado é inequívoco: há um contraste evidente entre o entusiasmo que este novo ciclo dos combustíveis fósseis desperta em governos e investidores e a ineficiência energética em que ele se apoia. O mais recente boom do petróleo pode contribuir para a segurança energética dos Estados Unidos. Mas certamente não ajuda a aumentar as chances de compatibilizar a expansão do sistema econômico global com a manutenção dos serviços ecossistêmicos dos quais as sociedades humanas dependem.
*Texto originalmente publicado no Portal Folha de São Paulo, em 20/07/12
Ricardo Abramovay
Professor titular da FEA e do IRI/USP, pesquisador do CNPq e da Fapesp

2- Um ícone do setor de etanol !
Existem pessoas, que leem a história!
Existem pessoas, que vivem a história!
E existem aqueles: que constroem a história!
Ao me deparar há alguns anos com a sentença acima comecei a pensar sobre qual seria o modo correto de se viver: o de construir valor a cada dia. Assim, pelo menos, tenho tentado pautar meus dias e meus ofícios, sem o arrependimento do que deixei de fazer, ou o fiz por impulso, mas sim, a certeza de que se errei, foi tentando acertar. Sempre !
José Paulo Stuapiello é um ícone do setor. Ao longo de toda a sua vida vem se dedicando diuturnamente para criar e inovar, sempre com suas ponderações racionais e lógica apurada, que aliada ao conhecimento que lhe é natural, e fruto de muito estudo, o torna ímpar entre seus pares. CanaSauro na real essência da palavra !
Engenheiro agrônomo por formação, consultor técnico de mais de 100 indústrias entre usinas e destilarias do Brasil e do exterior, além de Institutos e Agências Governamentais, Stupiello arruma tempo, ainda, para um de seus hobbies preferidos, a coleção de relógios de parede. Parece que gosta de ver o tempo passar...
Com justa homenagem recebeu, no final de maio, o prêmio de personalidade acadêmica durante o 3º Prêmio TOP Etanol, iniciativa do Projeto Agora, em reconhecimento a sua contribuição de forma decisiva para a consolidação do setor da bioenergia brasileira.
Hoje, acredito que quase todos os agrônomos de usinas e destilarias assistiram às suas aulas, quer seja na Esalq/USP - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, ou em um dos muitos congressos e cursos que tem ministrado. Assim, podemos atestar que seus dedos, e conhecimento, estão amplamente difundidos por todo o nosso segmento.
Como se não bastasse tudo isso, Stupiello se destaca ainda por sua liderança à frente da Sociedade dos Técnicos Açucareiros e Alcooleiros do Brasil (STAB), entidade que promove o intercâmbio científico, técnico e cultural entre as diversas regiões produtoras de cana-de-açúcar do país e do exterior.
Na STAB, sua visão voltada para a importância da qualificação profissional, o fez ainda firmar parceria com a UniUDOP - Universidade Corporativa da UDOP, onde em conjunto, as duas entidades realizam os cursos agrícolas e industriais, que nas últimas mais de duas décadas e meia já qualificaram mais de 100 mil profissionais para o setor. Ainda com a UDOP, o engenheiro agrônomo apoiou e deu sustentação à pesquisa de custos industriais que a entidade lançou neste ano, e que tem atraído a atenção de muitas usinas, que buscam um parâmetro de custos nesta época em que o setor enfrenta mais uma crise.
Tive a honra de tê-lo como meu professor e hoje posso me sentir ainda mais honrado de poder tê-lo como amigo. Nossos primeiros contatos datam na década de 1970, quando ainda esalquiano me aventurei a vender chapéu Panamá, canivete e sapatão astronauta, e fui flagrado por ele com um estoque de produtos num de seus armários, graças a parceria com seu braço direito Armindo. Faço questão de relembrar esta história, pois até hoje, o próprio Stupiello não se cansa em declamá-la.
O agrônomo Stupiello é ainda autor de 178 trabalhos de pesquisa e técnicos, livros, livros textos sobre processamento de açúcar e de álcool, além de conferencista e palestrante de mais de 156 congressos dentro e fora do Brasil, enfim, uma sumidade em matéria de cana-de-açúcar.
Ouso dizer que recentemente discutia-se qual deveria ser o nome desta planta mágica e maravilhosa chamada cana-de-açúcar, uma vez que o mesmo já foi muito superado, pois produz, além de açúcar, etanol, bioeletricidade, diesel, plástico verde, etc, etc, etc, e nada mais justo que sua nova nomenclatura pudesse fazer alusão a seu nome, numa mais que justa homenagem.
E para quem pensa que todo o farto currículo já é o bastante, ledo engano. José Paulo Stupiello se debruça hoje sobre seu novo desafio, a realização de mais uma edição da ISSCT - Congresso da International Society of Sugar Cane Tecnologies, ou Sociedade Internacional de Tecnologia da Cana-de-Açúcar, no Brasil entre os dias 24 e 27 de junho de 2013, em São Paulo.
A escolha do Brasil para a 28ª edição do ISSCT tem seu nome e empenho por trás, afinal há 24 anos que o país, líder mundial na produção de açúcar, não sediava o evento, que tem como objetivo promover o intercâmbio de ideias e conhecimentos sobre o desenvolvimento tecnológico dos países membros, através de congressos realizados a cada três anos.
Sua visão e paixão pela cana é tamanha que ainda formou os filhos, um casal, para este mesmo setor. Jaime Stuapiello, diretor agrícola da Guarani, do Grupo Tereos; e Maria da Graça Stupiello Andrietta, professora da Unicamp e grande pesquisadora de bioetanol. Mas este é outro capítulo...
*Texto originalmente publicado na Revista STAB, edição Maio/Junho
Antonio Cesar Salibe
Presidente executivo da UDOP

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