segunda-feira, 21 de outubro de 2013

IPGAP OIL & GAS & ENERGY NEWS - N° 151

I– NOTÍCIAS

1- Leilão de Libra aumenta expectativas do mercado
TN Petróleo
O primeiro leilão sob contrato de partilha, em que a União recebe pagamentos relativos ao lucro com o petróleo extraído da camada pré-sal, será realizado na próxima segunda-feira (21). A área licitada, o prospecto de Libra, tem uma reserva de petróleo recuperável estimada entre 8 e 12 bilhões de barris, o que justifica as expectativas do mercado global de energia.
Do certame, participarão onze empresas - CNOOC International Limited (China); China National Petroleum Corporation (CNPC) (China); Ecopetrol (Colômbia); Mitsui & CO (Japão); ONGC Videsh (Índia); Petrogal (Portugal); Petrobras (Brasil); Petronas (Malásia); Repsol/Sinopec (Hispano-Chinesa); Shell (Anglo-Holandesa) e Total (Francesa) -, e as vencedoras ajudarão o país a avançar como grande produtor mundial de petróleo.
Atualmente o 13º no ranking de produtores, o Brasil terá que ir além das tecnologias necessárias para os cenários profundos do pré-sal, e investir muito em infraestrutura. Segundo a diretora da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, Magda Chambriard, o campo de Libra, sozinho, deve ter um pico de produção com 1,4 milhão de barris de petróleo por dia. Segundo ela, esse cenário otimista deve acontecer em 10 ou 15 anos. Hoje, o Brasil possui produção de 2,2 milhões de barris/dia, isso mostra que Libra representará algo em torno de dois terços da produção atual de hidrocarbonetos. "Depende, é claro, da velocidade de desenvolvimento (da produção) do campo", disse a diretora da ANP, avaliando também que no ano que vem a agência deve estudar as bacias sedimentares brasileiras, no intuito de apurar "boas áreas para licitar".O consórcio ganhador do primeiro leilão do pré-sal terá que pagar um bônus fixo de R$ 15 bilhões ao Tesouro Nacional. Como a Petrobras precisa ter no mínimo 30%, terá que pagar pelo menos R$ 4,5 bilhões.
Infraestrutura
O prospecto de Libra deverá requerer entre 12 e 15 plataformas de produção. Cada plataforma é servida por cerca de quatro barcos de apoio marítimo, que transportam insumos e mantimentos.
Libra, portanto, deverá demandar, no mínimo, mais 48 embarcações, que vão se juntar à frota de apoio marítimo hoje em operação no Brasil, formada por 453 barcos. O mercado estima, com base em números da Petrobras, que até o fim da década essa frota possa situar-se em cerca de 750 embarcações, um crescimento de 65%.
Fonte: Revista TN Petróleo, Redação com Agência

2- Refino de gasolina em Abreu e Lima divide Petrobras
A possibilidade de que a refinaria Abreu e Lima (PE) inclua gasolina em seu portfólio está no centro de um embate entre técnicos e políticos da Petrobras. O 'Valor' apurou que estão em andamento estudos para adaptar a unidade para refino de gasolina, porém a eventual ampliação do investimento no reduto do agora adversário Eduardo Campos (PSB) - possível candidato à Presidência da República em 2014 - estaria incomodando a ala "política" da companhia.
O crescimento da frota nacional nos últimos anos não foi acompanhado pela capacidade de refino de combustíveis, o que elevou as importações da Petrobras, sobretudo de diesel e gasolina. A operação tem impacto importante sobre o desempenho financeiro da estatal, já que a importação de combustíveis tem peso próximo de 30% nos gastos da estatal. Pelo projeto original, a refinaria produziria óleo diesel, gás liquefeito de petróleo (GLP), coque, nafta e enxofre.
Para fabricar gasolina em Pernambuco, a companhia teria de viabilizar, por exemplo, o abastecimento local de nafta craqueada, item que compõe a fórmula do combustível, mas que não será produzido em Abreu e Lima. Neste sentido, engenheiros estudam atualmente a possibilidade de que a nafta chegue de navio ao Complexo Portuário de Suape, onde está sendo erguida a refinaria, orçada em US$ 17,1 bilhões.
Apesar da necessidade de adaptação, a operação seria economicamente vantajosa para a Petrobras se comparada à construção de outra refinaria, avaliou, sob a condição de anonimato, fonte envolvida nas discussões. O governo e o comando da petrolífera, entretanto, estariam resistindo à ideia de colocar mais dinheiro federal em Pernambuco, cujo governador se confirmou como potencial adversário nas eleições presidenciais de 2014.
Em entrevista recente ao 'Valor', a presidente da Petrobras, Graça Foster, disse que foram retomados os projetos das refinarias Premium I (Maranhão) e Premium II (Ceará), que tinham sido retiradas do plano de investimentos da companhia. Na quarta-feira, ela reafirmou o compromisso: "A Petrobras precisa de refinarias. Não é algo que a Petrobras não queira. É algo que ela precisa. Gostaríamos de ter todas as refinarias operando".
A avaliação de alguns técnicos, contudo, é de que a estatal não estaria no melhor momento financeiro para arcar com as duas novas refinarias, motivo pelo qual a Petrobras prospecta, especialmente na China e na Coreia do Sul, potenciais sócios privados para esses empreendimentos. Os projetos originais das refinarias Premium I e II somam mais de US$ 30 bilhões.
Orçada atualmente em US$ 17,1 bilhões, Abreu e Lima é considerada pela própria presidente da Petrobras como exemplo a não ser seguido. Problemas de planejamento, questionamentos do Tribunal de Contas da União e greves de trabalhadores atrasaram e encareceram o projeto, estimado inicialmente em pouco mais de US$ 2 bilhões. Apesar do esforço em colocar a obra nos trilhos, a entrega da refinaria deverá sofrer novo atraso.
Pessoas que acompanham o dia a dia do empreendimento dizem ser "muito difícil" que a entrada em operação da primeira fase de refino aconteça em novembro de 2014, data com a qual a direção da companhia trabalha. Já estaria sendo avaliada uma inauguração pró-forma da refinaria, pela qual somente as últimas etapas do processo de refino seriam realizadas na unidade dentro do prazo estipulado. "O ciclo todo é praticamente impossível que esteja funcionando", informou uma fonte.
Apesar da forte pressão exercida pela direção da Petrobras, engenheiros que trabalham em Abreu e Lima concordam que a operação em novembro de 2014 está longe da realidade. Um dos principais problemas apontados é o grande atraso na construção dos dutos que levarão o óleo até a unidade de refino, que terá capacidade para 230 mil barris diários. Procurada, a assessoria de imprensa da Petrobras informou que a companhia não iria se pronunciar.
Fonte: Valor Econômico

3- CAMPO DE LIBRA E O PROJETO NACIONAL
O ex-diretor geral da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Haroldo Lima, defendeu a realização do leilão de Libra, a exemplo do que já havia feito com os leilões anteriores. Haroldo é membro da direção do Partido Comunista do Brasil (PC do B) desde 1966, aliado do governo atual desde as primeiras candidaturas de Lula à presidência do país e defensor do monopólio estatal do petróleo quando foi deputado federal constituinte e em suas eleições posteriores. Portanto não é uma opinião qualquer, mas de parcela do governo Dilma.
A sua argumentação central é que o Brasil deve seguir o exemplo de vários outros países, "China, Índia, Noruega, Canadá, Cuba, Angola e tantos outros países articulam-se com quem que seja para impulsionar seus desenvolvimentos. Empregam regulação que preserva suas soberanias e seus projetos nacionais".  Segundo ele, o edital e contrato do leilão de Libra resguardam o interesse nacional e, "se o consórcio vencedor não der à União nada além do mínimo exigido, a participação pública no óleo ficará em 75%, segundo estudo da ANP, divulgado em reunião da CPI da espionagem, no Senado; se a parcela do excedente chegar a 50%, a participação pública irá a 80%, das maiores do mundo."(Diomedes Cesário/Ex-Presidente d a AEPET) 

4 -Estaleiro Enseada do Paraguaçu adota nova solução de TI
Fonte: Revista TN Petróleo, Redação com Assessoria  
Dedicado à construção e integração de unidades offshore, com plataformas, navios especializados e unidades de perfuração, o Estaleiro Enseada do Paraguaçu (EEP) contou com a Brasoftware, um dos mais tradicionais parceiros da Microsoft, na implementação das soluções Office 365 e Exchange Online - sistema particular de mensageria em nuvem.
Concebido por meio de uma iniciativa de quatro empresas de atuação global: Odebrecht Participações e Investimentos S.A.; OAS Investimentos S.A.; UTC Participações S.A e Kawasaki Heavy Industries Ltda, acionista e parceira tecnológica; o estaleiro deve iniciar suas operações em 2014 e poderá processar até 36 mil toneladas de aço por ano, quando estiver em plena atividade.
Serviço de mensageria próprio
De acordo com Antídio Dantas, especialista em TI do EEP, quando o estaleiro começou a ser estruturado, utilizava a infraestrutura de e-mails Microsoft Exchange online da Odebrecht, sócia majoritária do consórcio. Em 2012, período no qual a área de TI do estaleiro iniciou a construção de sua própria infraestrutura de tecnologia, a empresa procurou no mercado um parceiro que a apoiasse na migração para um sistema de mensageria próprio, que se integrasse com todos os sites da empresa no Brasil e no mundo. “Parceira da Odebrecht de longa data em outros projetos, a Brasoftware nos ajudou na estratégia e adoção da solução Office 365 e Exchange online”, conta Dantas.
O profissional explica que sua equipe gerencia a TI de três cidades no Brasil: Rio de Janeiro (RJ), Salvador e Maragojipe (BA), e também provê consultoria aos usuários de TI localizados na Romênia, Japão e China, por meio de acesso remoto.
Segundo Dantas, a migração do serviço de mensageria para a nuvem trouxe para o estaleiro uma maior estabilidade no serviço, assim como uma redução considerável de despesas, principalmente no que diz respeito a custo unitário por mailbox de usuários e quantidade de servidores/licenças necessários para manter uma infraestrutura on-premises.
Processo de implementação
Para seguir os padrões de segurança de dados da Odebrecht, sua equipe precisou criar um novo ambiente, com novas caixas de e-mails vazias para migrar as cerca de 800 contas de e-mails para esses novos espaços. Nesse modelo de migração, foi necessário um forte trabalho de comunicação com os usuários, que precisaram colaborar seguindo alguns passos para a adoção da ferramenta. Para isso, a equipe de TI do estaleiro também criou, internamente, plug-ins que permitiam aos usuários fazer uma série de rotinas automáticas.
“Normalmente, a implementação híbrida - onde as contas de e-mail antigas e atuais funcionando, enquanto a migração acontece - seria a primeira opção nesse tipo processo, mas as regras internas de segurança da Odebrecht exigiram o desenvolvimento de uma nova estratégia para a importação e exportação de dados”, explica Attília Capella, gerente de projeto da Brasoftware.
O especialista conta que, mesmo precisando adotar essa estratégia mais longa, com o apoio da Brasoftware foi possível concluir o projeto em 20 dias. “Adotamos o Office 365 pela facilidade para implementar e gerenciar as contas. O seu uso trouxe mais produtividade e economia para nossa área. Os funcionários também possuem agora uma caixa de e-mail com espaço maior, acessível fora da empresa por meio de qualquer dispositivo móvel, como tablets e smartphones”, comenta.
Para Dantas, a solução tem sido imprescindível para o gerenciamento das contas no Brasil e no exterior. “A solução tem capacidade de acompanhar o crescimento gradual da empresa que está nascendo, sem a necessidade de instalar novos servidores. Iniciamos com 800 usuários e já estamos com um pouco mais de mil contas ativas”, conclui Dantas.
O próximo passo da equipe de TI do Estaleiro Enseada do Paraguaçu será a ampliação do projeto com a utilização da plataforma de colaboração Microsoft Sharepoint, e de comunicação unificada, Microsoft Lync, integradas ao Office 365.


II– COMENTÁRIOS

1- Gás de Folhelho  nos EEUU
Duas tecnologias novas desenvolvidas recentemente nos Estados Unidos estão revertendo todos os prognósticos de rápida alteração no equilíbrio de forças econômico do planeta e podem afetar seriamente o sonho brasileiro de achar um corte de caminho para o clube dos grandes do mundo.
A primeira envolve injetar uma mistura de água, areia e produtos químicos em estruturas rochosas que contêm microporos cheios de gás de modo a liberar os hidrocarbonetos aprisionados nelas. A segunda torna muito mais fácil chegar às mais finas camadas dessas rochas enterradas a baixas profundidades, além de permitir a perfuração de diversos poços a partir de um único ponto de partida.
Essas duas novas técnicas de extração do que por lá se chama de “shale gas” estão provocando uma verdadeira explosão nos números de produção de gás e petróleo dos Estados Unidos e barateando de tal forma os custos de diversas industrias intensivas em energia que todos os prognósticos sobre a “crise sistêmica” da economia americana, que estaria irremediavelmente condenada a ser engolida por economias emergentes, estão sendo refeitos.
Os entornos de Pittsburgh que, nos últimos anos, pareciam um cemitério de velhas siderúrgicas desativadas, assistem hoje a uma corrida frenética de capitais americanos, russos, franceses e até chineses para voltar a fabricar aço com a energia mais barata do mundo.
O Maciço Marcellus, uma formação geológica de rochas arenosas impregnadas de gás e óleo se estende por quase 1.000 quilômetros ao longo das montanhas Apalaches do estado de Nova York até o de West Virgínia. Somente no ano passado o governo da Pennsylvania emitiu 2.484 permissões para a perfuração desse novo tipo de poço de petróleo. Somente os poços da porção do Maciço Marcellus nesse estado produziram 895 bilhões de pés cúbicos de gás em 2012, partindo de 435 bilhões no ano anterior. Em 2008 essa produção era igual a zero.
Isso representou uma injeção de US$ 14 bilhões na economia da Pennsylvania no ano passado (dados da Economist).
Arkansas, Louisiana, Oklahoma e Texas viveram explosões semelhantes. A produção de gás e petróleo extraído dessas rochas quadruplicou nos Estados Unidos entre 2007 e 2010 e acrescentou 20% à produção nacional de petróleo em geral nos últimos cinco anos. Técnicos da British Petroleum afirmam que a produção deve continuar crescendo à base de 5,3% ao ano até 2030 e que, já no fim deste ano os Estados Unidos ultrapassarão a Rússia e a Arábia Saudita e se tornarão o maior produtor de petróleo e gás do mundo.
O preço do gás nessa região caiu de US$ 13 o BTU em 2008 para US$ 1 a 2 no ano passado, o segundo preço mais baixo do mundo depois do Canadá. As fabricas americanas consumidoras de gás estão pagando 1/3 do que pagam as alemãs e ¼ do que pagam as coreanas.
Gás barato também se traduz em eletricidade barata. Em 2011 as fábricas americanas nessas regiões já estavam pagando metade do custo da energia no Chile ou no México e ¼ do que se paga na Itália.
Não é só a indústria de metalurgia que se beneficia com isso. Além de todas as demais, as de uso intensivo de energia, como as de plásticos, fertilizantes e outras também se tornam imbatíveis. E, além disso, os Estados Unidos têm a maior rede do mundo de oleodutos e gasodutos, o que espalha facilmente essa riqueza a preço baixo para todo o país.
A Costa do Golfo, onde existe outro maciço dessas rochas, também vive um forte renascimento industrial. Fabricas instaladas no Chile estão sendo desmontadas e transportadas inteiras para a Louisiana. A Bridgestone, a Continental e a Michelin, revertendo um longo processo de declínio, estão reativando e aumentando suas fábricas de pneus na Carolina do Sul. Tudo gira em torno do início da exploração de novas jazidas de rochas porosas como as da Bacia Permian, na Louisiana, a de Eagle Ford Shale, no Texas, a da Formação Baken em Dakota do Norte e a Mississipi Lime, que atravessa o subsolo de Oklahoma até o Kansas.
O efeito da redução das importações de petróleo no déficit comercial americano foi de US$ 72 bilhões no ano passado, ou 10% do déficit total. Esse “petróleo não convencional” gerou US$ 238 bilhões em atividades econômicas diretas, 1,7 milhão empregos e US$ 62 bilhões em impostos só no ano passado, sem contar os efeitos indiretos decorrentes da redução nos preços da eletricidade, do gás e dos produtos químicos.
Analistas do Citigroup e do UBS calculam que só essa indústria vai gerar um crescimento de 0,5% do PIB norte-americano por ano nos próximos anos além de ensejar um renascimento das industrias de manufaturas nos Estados Unidos. As decisões recém anunciadas da GE de trazer de volta da China e do México para o Kentucky a produção de sua linha branca, e da Lenovo, o gigante chinês de hardware que comprou a linha de computadores pessoais da IBM, de produzi-los na Carolina do Norte são apontados como os primeiros passos desse processo de reversão.
O efeito dessa inovação nos preços internacionais do petróleo ainda são pequenos. Mas os Estados Unidos, que foram os maiores importadores do mundo e rapidamente se tornarão autosuficientes, não são o único lugar do mundo onde existe esse tipo de formação rochosa que, lá, praticamente aflora do chão.

2- Próximos 12 anos vão exigir investimentos de US$ 500 bilhões
As descobertas de petróleo no pré-sal brasileiro trouxeram um mar de oportunidades para o Brasil em termos de reservas de um bem precioso e escasso que trarão benefícios econômicos ainda não totalmente dimensionados. Mas os desafios de execução e a pressão sobre a indústria nacional e a Petrobras não serão triviais. A consultoria IHS calcula que serão necessários US$ 500 bilhões de investimento no setor de óleo e gás brasileiro entre 2013 e 2025 para colocar de pé as metas da estatal, operadora única do pré-sal por lei. As projeções da companhia, conhecidas até agora, são de produzir 4,2 milhões de barris de petróleo por dia em 2020 ou 5,2 milhões de barris de óleo equivalente se for contabilizado o gás natural.
O leilão de Libra, marcado para a próxima segunda-feira (21), reforça o papel do Brasil como grande produtor mundial de petróleo. Hoje, o Brasil ocupa a 13ª posição nesse ranking. Como as grandes descobertas do mundo têm sido feitas no país, o Brasil tende a avançar nesse grupo. Hoje, o quarto maior produtor é a China, com 4,2 milhões de barris/dia. Mas no concorrente asiático, poucas descobertas têm sido anunciadas.
Para dobrar sua produção de petróleo em sete anos, a Petrobras terá que crescer em pouco tempo o que demorou 60 anos. Maior consultoria de energia do mundo, a IHS calcula que se cumprir inteiramente os percentuais de conteúdo local a produção da estatal pode ser menor, de 3,5 milhões de barris já que existem gargalos importantes no setor de construção naval e de mão de obra qualificada no país.
Rodrigo Vaz, diretor da área de Óleo e Gás da IHS no Brasil, observa que grande parte do esforço terá que vir dos fornecedores da Petrobras, que terão que utilizar quantidades gigantescas de aço, linhas de transferência, equipamentos submarinos, sondas de perfuração e dutos, só para citar alguns materiais críticos.
Para se ter uma dimensão do tamanho das encomendas à indústria, a IHS calcula que serão necessários 630 mil toneladas de aço estrutural, 7.800 quilômetros de linhas flutuantes (que conectam os poços às plataformas) instaladas em águas cada vez mais profundas, 1,5 mil novas árvores de natal molhadas (cada uma custando cerca de US$ 30 milhões), 52 mil toneladas de tubulações e 75 mil toneladas de equipamentos submarinos.
A capacidade de construção naval brasileira será testada já que a quantidade de plataformas flutuantes de armazenamento e transferência (FPSOs) necessárias - 40 na estimativa da IHS e 35 segundo a Coppe-UFRJ - excede tudo que foi instalado até agora. Para se ter uma ideia do desafio à vista, a primeira FPSO usada pela Petrobras foi a P-34, em 1993, no campo de Jubarte.
Hoje a frota é de 25 embarcações desse tipo, que se somam a 16 plataformas semisubmersíveis e outras 88 fixas. O problema para cumprir metas de aumento da produção é a falta de capacidade ociosa nos diques secos dos estaleiros nacionais, mesmo os virtuais.
"Dos projetos de construção de plataforma em carteira atualmente, menos de um terço está sendo integralmente construído no Brasil. A maior parte dos projetos é para atender campos de rodadas de licitação [da ANP] mais antigas, quando o conteúdo local era bem mais brando", afirma Vaz, observando que a exigência de conteúdo local já aumentou em cerca de 30% o preço das unidades construídas no Brasil, onde a produtividade é menor.
O consultor vê espaço para a Petrobras aliviar, de certa forma, o gargalo dos estaleiros nacionais sem comprometer o conteúdo local mínimo exigido por meio de encomendas dos cascos na Ásia.
Para Libra, a consultoria estima números gigantes, um pouco deles incluídos na projeção de investimento até 2025. Ao longo dos 35 anos de concessão somente os custos operacionais (dedutíveis) poderão variar entre US$ 180 bilhões e US$ 250 bilhões. Ontem, em Brasília, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, estimou que nos primeiros dez anos, Libra vai exigir investimentos de US$ 80 bilhões.
Tomando como premissa o início de produção de Libra em 2019, a IHS espera que o pico de atividade no campo seja atingido somente em 2027, quando é esperado que todas as unidades de produção (entre 10 e 15 plataformas) estejam operando.
A produção nesse momento é estimada em 1,6 milhão de barris de petróleo por dia pela IHS e em 1,4 milhão de barris/ dia pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Atualmente a Petrobras produz 2 milhões de barris/dia, volume afetado pela queda da produção dos campos gigantes da bacia de Campos.
Sobre Libra, Vaz destaca que as estimativas hoje são imprecisas já que os valores finais dependem de várias premissas, principalmente a de confirmação do volume recuperável de reservas do campo, que até hoje tem apenas um poço perfurado com sucesso.
A ANP estima que Libra tenha entre 8 e 12 bilhões de barris recuperáveis de petróleo, o que corresponde a um reserva "in situ" no campo - nem toda ela capaz de ser extraída com a tecnologia atual - variando entre 26 bilhões a 42 bilhões de barris segundo estimativa da consultoria Gaffney, Cline, contratada pela agência reguladora. Já a IHS estima que o campo gigante tenha reservas "in situ" de 18 bilhões de barris.
Mesmo projetando um volume menor, o campo é disparado o de maior tamanho descoberto no mundo desde 2008. Na lista da IHS mostrando as dez maiores descobertas de petróleo no mundo no período, seis são brasileiras - Franco, Libra, Iara, Sapinhoá, Carcará e Júpiter - todas descobertas da Petrobras no pré-sal da Bacia de Santos.
Outras duas descobertas estão no Iraque (Barda Rash e Shaikan), uma nos Estados Unidos (o campo de Tiber) e outra na Noruega (Johan). Desses locais, o único a oferecer uma área para leilão atualmente é o Brasil, já que o Iraque está fechado.
O consórcio que ganhar na segunda-feira o contrato de partilha para produzir petróleo em Libra terá que perfurar mais poços e testar o reservatório e delimitar a área do campo, que tem mais de 1,5 mil quilômetros quadrados de extensão em lâmina d'água de aproximadamente 1.500 metros até o subsolo marinho. Ainda não se conhecem os planos para escoamento dos enormes volumes de gás que serão produzidos. As estimativas são de que a produção de gás chegue a 20 milhões de metros cúbicos dia, o equivalente a dois terços das atuais importações da Bolívia. Contudo, como não existe gasoduto na área, a Petrobras já sinalizou que grande parte da produção de gás no pré-sal será reinjetada nos poços, frustrando setores da indústria.
Fonte: Valor Econômico

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