sábado, 18 de agosto de 2012

IPGAP OIL & GAS & ENERGY NEWS - N° 96

I – NOTÍCIAS

1- Presidente da Transpetro inaugura Estaleiro em Araçatuba
O presidente da Transpetro, Sérgio Machado, afirmou à Agência Estado que a companhia inicia ainda neste mês as operações do Estaleiro de Araçatuba (SP) para a produção de barcaças de transporte de etanol pela Hidrovia Tietê-Paraná. "Em janeiro de 2013, devemos entregar o primeiro comboio com um empurrador e quatro barcaças", disse, durante evento da revista Isto É Dinheiro, em São Paulo
Machado afirmou não estar preocupado com a crise de oferta de etanol nos últimos dois anos. "Com a área que temos, em quatro anos, produzimos qualquer quantidade de etanol e havendo demanda teremos a infraestrutura", disse.
O projeto da Transpetro prevê a construção de 20 empurradores e 80 barcaças, num custo total de R$ 432 milhões.
16/08/12
Gustavo Porto e Francisco Carlos de Assis
Fonte: Agência Estado

2- Cientistas identificam material que reduz poluição de veículos a diesel
Engenheiros da Universidade do Texas, nos EUA, afirmam ter identificado um material capaz de reduzir a poluição produzida por automóveis movidos a diesel.
O elemento, um tipo de mineral chamado mulita, pode substituir a platina, metal caro usado em motores a diesel para controlar a quantidade de poluição lançada no ar.
O estudo foi publicado na revista "Science". Segundo os pesquisadores, uma versão sintética da mulita reduz até 45% mais poluição do que a platina usada em catalisadores de veículos.
Um dos responsáveis pela pesquisa, professor Kyeongjae Cho, da Universidade do Texas, enfatizou a facilidade de produção da mulita, em entrevista ao site da instituição. O mineral é raramente encontrado na natureza e pode ser produzido a partir do topázio.
"Muitos métodos de controlar a poluição de carros ou de usar energias renováveis requerem metais raros ou preciosos", disse Cho. "Nosso objetivo é acabar com a necessidade de usar estes metais e substitui-los com minerais e óxidos que possam ser encontrados ou obtidos facilmente."
O material "alternativo" vai ser comercializado com o nome de Noxicat, afirma o professor. Ele e sua equipe esperam identifcar outros usos da mulita, como para a criação de baterias.
Fonte: Globo Natureza

3- Montadoras querem discutir eficiência energética
O vice-presidente da Associação Nacional de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, disse que as montadoras concordam com o programa de melhoria de eficiência energética proposto pelo governo, mas querem discutir os detalhes da sua implementação. Moan se reuniu com o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, para discutir a regulamentação do novo regime automotivo, que entrará em vigor a partir de 2013.
Ele argumentou que não adianta trazer para o País um modelo de eficiência energética europeu, sem considerar os combustíveis utilizados na Europa e no Brasil. Segundo Moan, 40% da frota europeia usa o diesel como combustível, que é o mais eficiente. Ele explicou também que, na Europa, cada empresa tem uma meta de emissão de CO2 de acordo com o perfil dos veículos produzidos. Para Moan, esse é o ponto mais sensível na negociação, e uma nova reunião foi marcada para a próxima semana, em Brasília.
Emissão controlada
A proposta do governo é exigir que as empresas produzam carro com emissões de no máximo 135 gramas de CO2 por quilômetro rodado, até 2017. O ministro do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Fernando Pimentel, deu sinais, nesta semana, de que não pretende flexibilizar esse índice, como querem as montadoras. Pimentel afirmou ser natural que as empresas queiram mais prazo para se adaptar, mas argumentou que esse índice de eficiência energética que será exigido em 2017 já é o praticado na Europa pelas mesmas montadoras instaladas no Brasil.
Moan negou que o setor tenha pedido ao governo a prorrogação da redução do IPI para o setor produtivo, que vence no final deste mês. "A preocupação com a questão do IPI não é para hoje. Me fio na declaração do ministro Mantega de que não pensa na prorrogação do IPI", afirmou. Moan informou que os estoques do setor automotivo já caíram de 43 dias, em maio, para 24 dias agora. Ele estimou também que as vendas do setor devem crescer entre 3% a 4% este ano, em relação a 2011.
Fonte: Agência Estado

4- Grandes negócios com microgeração à vista
O Brasil está bem em qualquer ranking quando o assunto é o potencial para exploração de energia limpa. A diversidade energética, como energia eólica, pequenas usinas, biomassa e, nos próximos ano, energia solar, abre um bom caminho para a microgeração de energia.
Agentes do mercado de energia acreditam no avanço mais forte deste segmento com a aprovação da legislação que estabeleceu regras para desburocratizar a instalação de geração distribuída de pequeno porte, que incluem a microgeração, com até 100 KW de potência, e a minigeração, de 100 KW a 1 MW.
Aprovada há quatro meses, a resolução nº 482 cria um sistema de compensação de energia que permite ao consumidor instalar pequenos geradores em sua unidade consumidora e trocar energia com a distribuidora local.
A norma é válida para geradores que utilizem fontes incentivadas de energia %4 hídrica, solar, biomassa, eólica e cogeração. A resolução estabelece as condições gerais para o acesso dos sistemas de microgerçaão e minigeração distribuída aos sistemas de distribuição de energia elétrica.
Na perspectivas de especialistas, esta legislação vai impulsionar o avanço da energia solar no país. Segundo estimativas de mercado, o Brasil possui, atualmente, cerca de 20 MW de capacidade de geração solar fotovoltaica, com a maior parte sendo utilizada para atender sistemas isolados e remotos.
"Hoje o entendimento é que a geração distribuída está mais próxima da viabilidade comparativamente à centralizada, já sendo inclusive viável em alguns casos. No entanto, não é objetivo da análise comparar a competitividade deste tipo de energia, ainda incipiente no país, com outras fontes que já possuem uma maturidade significativa, mas sim, caso se opte pela promoção desta tecnologia, discutir a melhor forma de incentivos capazes de facilitar sua inserção", diz o documento Análise da inseração da geração solar na matriz energética brasileira, publicado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Projeta-se que os sistemas de geração distribuída acrescentarão 30 mil MW de capacidade instalada à matriz energética até 2020. Segundo a Cogen (associação que reúne as empresas do segmento), cerca de 10 mil MW desse total serão provenientes da biomassa e 7,5 mil MW de energia solar.
Fonte: Ambiente Energia

5- Eike pode não cumprir promessa de Ebitda de US$ 1 bilhão
As empresas do Eike Batista tiveram no segundo trimestre um prejuízo quase tão grande quanto as perdas em todo o ano passado. Os resultados ameaçam a promessa feita pelo empresário de fechar 2012 no azul.
A OGX Petróleo & Gás Participações SA, a MMX Mineração & Metálicos SA, a OSX Brasil SA, a MPX Energia SA e a LLX Logística SA, todas com ações na bolsa, tiveram uma perda total de R$ 926,5 milhões no segundo trimestre, contra um prejuízo de R$ 941,8 milhões em 2011. Pelo critério de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, ou Ebitda, o prejuízo total foi de R$ 160 milhões para as cinco empresas no período.
Os resultados, que vieram depois dos problemas de produção na OGX e da queda nos preços do minério de ferro que afetou a MMX, colocam sob risco o compromisso assumido em março por Eike de gerar um Ebitda de US$ 1 bilhão este ano, como parte de uma “grande virada”. Analistas preveem que seis empresas do grupo EBX, incluindo a CCX Carvão da Colômbia SA, que estreou na bolsa em maio, fecharão 2012 com um Ebitda negativo de R$ 111 milhões, segundo dados compilados pela Bloomberg.
“É um caso de apresentar resultados, que está exigindo paciência de investidores, e os catalisadores não estão presentes de fato”, disse Eric Conrads, que ajuda a administrar US$ 1 bilhão em ações no ING Groep NV, em Nova York. “Eles precisam apresentar pelo menos em linha com as expectativas.”
As empresas controladas pela EBX estão em uma fase de investimento, disse a holding por e-mail em resposta a questionamentos, se negando a fazer comentários adicionais.
Fonte: EXAME.com

6- China anunciou investimentos de US$ 28 bilhões no Brasil desde 2010
Com a crise em 2008 nos Estados Unidos e na Europa, o excedente da produção industrial chinesa, um dos motores do crescimento médio acima de dois dígitos registrado na última década pelo país asiático, foi voltado para outros mercados mais periféricos, como a América Latina e a África. Esse movimento se intensificou e se diversificou nos últimos dois anos, fazendo com que, de 2010 para cá, o anúncio de investimentos chineses no Brasil somasse US$ 28 bilhões.
A estimativa é do professor de economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Roberto Dumas, apresentada durante palestra sobre a economia da China promovida pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Segundo ele, com a menor demanda global por produtos manufaturados o governo chinês apostou no investimento para a economia continuar crescendo. O Brasil, para Dumas, está começando a sentir esse efeito, e a tendência é de que isso aumente.
“Eles precisam crescer muito anualmente para evitar conflitos sociais. O país passa por profunda transformação com mudança da população da zona rural para a urbana. Foxconn, Chery, ZTE, só para citar empresas ligadas à indústria, já estão nesse caminho de chegada ao Brasil. Também foram anunciados investimentos em energia renovável e agricultura, um dos pilares do próximo plano quinquenal deles”, afirmou Dumas.
Fonte: Valor / Rodrigo Pedroso

7- Petrobras não vai se transformar em uma empresa do pré-sal
O diretor de Exploração e Produção da Petrobras, José Formigli, afirmou que a Petrobras não vai se transformar em “uma empresa do pré-sal” e que continuará expandindo suas atividades para as outras áreas potencialmente produtoras do país, inclusive em blocos terrestres.
A afirmação foi feita apesar da constatação de que o Plano de Negócios e Gestão da companhia para o período 2012-2016 destinará 51% dos investimentos para a área de Exploração e Produção - que totalizam US$ 131,6 bilhões - a campos e atividades de exploração e produção localizados no pré-sal da Bacia de Santos.
Formigli disse que a Petrobras, a partir das novas descobertas e dos projetos em fase de maturação, vai priorizar, no curto e médio prazo, o aumento da produção de petróleo a partir de campos já descobertos e das unidades que começaram a entrar em produção, mas que também não se descuidará da área de exploração para que não haja declínio em suas reservas.
“Ao mesmo tempo em que precisamos começar a colocar em produção os campos já descobertos, também temos que continuar avançando na procura de ativos novos - de novas descobertas. A prioridade hoje é colocar em produção as reservas já descobertas”, disse.
O diretor disse que a estatal deverá manter a produção dos próximos dois anos praticamente nos mesmos patamares, com crescimento de apenas 1% a 2% ao ano, mas que as previsões e os projetos em maturação indicam um salto no volume de produção a partir do início de 2014.
“Se você observar as unidades em construção verá que a P-55 estará entrando em fase de produção no segundo semestre deste ano, com o crescimento da produção do Lula Nordeste [no pré-sal da Bacia de Santos]. Tem Papa-Terra [na Bacia de Campos] entrando em produção no segundo semestre de 2013. Com isto, no final de 2013, início de 2014, nós teremos a decolagem da produção”.
No Plano de Negócios e Gestão da Petrobras para o período 2012-2014, quando os investimentos totalizarão US$ 236,6 bilhões, a empresa traçou como meta chegar a 2016 com produção de 3,3 milhões de barris de óleo equivalente (petróleo e gás natural). Atualmente, o recorde de produção da estatal foi 2,1 milhões de barris por dia, alcançado nesta semana.
O plano aponta que o maior crescimento da produção acontecerá a partir de 2014, com expectativa de aumento da produção de 5% e 6% ao ano no período 2014-2016. Para os anos de 2012 e 2013, a expectativa é a manutenção da produção.
Em relação à meta de longo prazo, a expectativa é alcançar em 2020 a produção total de 5,2 milhões de barris de óleo equivalente - volume que saltará para 5,7 milhões por dia considerando os ativos no exterior.
O consumo interno de petróleo no Brasil é de cerca de 1,2 milhão de barris e a produção, em geral, é próxima deste volume. O problema é que a maior parte do óleo produzido no país é de baixa qualidade e é necessário importar petróleo de qualidade para misturar e fazer o refino. Com o pré-sal, a expectativa da Petrobras é conquistar a autosuficiência na produção e refino do petróleo.
O diretor de Exploração e Produção da Petrobras, José Formigli, afirmou na quarta-feira (15) que a estatal não vai se transformar em “uma empresa do pré-sal” e que continuará expandindo suas atividades para as outras áreas potencialmente produtoras do país, inclusive em blocos terrestres.
A afirmação foi feita apesar da constatação de que o Plano de Negócios e Gestão da companhia para o período 2012-2016 destinará 51% dos investimentos para a área de Exploração e Produção - que totalizam US$ 131,6 bilhões - a campos e atividades de exploração e produção localizados no pré-sal da Bacia de Santos.
Formigli disse que a Petrobras, a partir das novas descobertas e dos projetos em fase de maturação, vai priorizar, no curto e médio prazo, o aumento da produção de petróleo a partir de campos já descobertos e das unidades que começaram a entrar em produção, mas que também não se descuidará da área de exploração para que não haja declínio em suas reservas.
“Ao mesmo tempo em que precisamos começar a colocar em produção os campos já descobertos, também temos que continuar avançando na procura de ativos novos - de novas descobertas. A prioridade hoje é colocar em produção as reservas já descobertas”, disse.
O diretor disse que a estatal deverá manter a produção dos próximos dois anos praticamente nos mesmos patamares, com crescimento de apenas 1% a 2% ao ano, mas que as previsões e os projetos em maturação indicam um salto no volume de produção a partir do início de 2014.
“Se você observar as unidades em construção verá que a P-55 estará entrando em fase de produção no segundo semestre deste ano, com o crescimento da produção do Lula Nordeste [no pré-sal da Bacia de Santos]. Tem Papa-Terra [na Bacia de Campos] entrando em produção no segundo semestre de 2013. Com isto, no final de 2013, início de 2014, nós teremos a decolagem da produção”.
No Plano de Negócios e Gestão da Petrobras para o período 2012-2014, quando os investimentos totalizarão US$ 236,6 bilhões, a empresa traçou como meta chegar a 2016 com produção de 3,3 milhões de barris de óleo equivalente (petróleo e gás natural). Atualmente, o recorde de produção da estatal foi 2,1 milhões de barris por dia, alcançado nesta semana.
O plano aponta que o maior crescimento da produção acontecerá a partir de 2014, com expectativa de aumento da produção de 5% e 6% ao ano no período 2014-2016. Para os anos de 2012 e 2013, a expectativa é a manutenção da produção.
Em relação à meta de longo prazo, a expectativa é alcançar em 2020 a produção total de 5,2 milhões de barris de óleo equivalente - volume que saltará para 5,7 milhões por dia considerando os ativos no exterior.
O consumo interno de petróleo no Brasil é de cerca de 1,2 milhão de barris e a produção, em geral, é próxima deste volume. O problema é que a maior parte do óleo produzido no país é de baixa qualidade e é necessário importar petróleo de qualidade para misturar e fazer o refino. Com o pré-sal, a expectativa da Petrobras é conquistar a autosuficiência na produção e refino do petróleo.
Fonte: Agência Brasil


II – COMENTÁRIOS

1- Etanol é a solução brasileira
Depois da truculenta estatização da YPF, o governo argentino lançou mais um conjunto de medidas com o objetivo de aumentar a intervenção do Estado no setor de petróleo.
Um novo decreto presidencial, editado no dia 27 de julho, estabeleceu que as empresas do setor de petróleo, inclusive a Petrobras, ficaram sujeitas a uma regulamentação que vai determinar, até mesmo, a margem de lucro que terão nas vendas internas.
Para exportar petróleo ou derivados as empresas de petróleo, terão que pedir permissão ao governo. Com esta medida, o governo argentino torna o ambiente ainda menos amigável para as empresas, o que certamente se converterá em diminuição ou, até mesmo, eliminação dos investimentos privados no setor de petróleo e gás natural.
Como o governo argentino não tem recursos para investir e não tem acesso ao mercado internacional de crédito desde a moratória, fica difícil imaginar como financiar a atividade de exploração e produção de petróleo e gás natural. De fato, o aumento do intervencionismo já vem tendo impacto na produção de petróleo e gás, que atingiu seu ápice em 2004 com 1.56 milhão barris equivalentes de petróleo por dia (bep/d) e reduziu-se para 1.30 milhão bep/d no ano passado.
Em 2010, a Argentina já passou por um racionamento de gás no inverno e as exportações para o Brasil e o Chile estão suspensas. A experiência argentina deve ser olhada com atenção, como uma receita a não ser seguida. O populismo econômico intervencionista do governo Kirchner vai se traduzir em desabastecimento e aumento de preços.
Para fazer frente às recentes medidas de intervenção no setor petrolífero na Argentina, que terão como maior consequência o afastamento de investidores, foi noticiado na imprensa que, após a oficialização da entrada da Venezuela no Mercosul, os presidentes da Argentina, Cristina Kirchner, e da Venezuela, Hugo Chávez, assinaram um acordo de cooperação entre as empresas petrolíferas de seus países.
O acordo de cooperação é uma tentativa do governo argentino de viabilizar o aumento da produção de petróleo e gás e evitar o desabastecimento. Só uma empresa como a PDVSA, que pertence a um governo avesso às leis de mercado, aceitaria ampliar seus negócios num país no qual o setor de petróleo é usado como parte da política de "populismo econômico".
Resta saber se este "acordo de cooperação" vai gerar algum resultado prático ou, apenas, se limitar a um evento diplomático. Cabe lembrar que, o novo "sócio" da Argentina também possui uma participação virtual num projeto brasileiro em conjunto com a Petrobras: a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
O projeto da refinaria já nasceu sem objetivos empresariais, uma vez que não foi uma decisão estratégica da Petrobras e sim de um projeto político do ex-presidente Lula, que por motivos políticos desejava uma sociedade com Hugo Chávez.
Até hoje, a empresa venezuelana ainda não contribuiu, com um real sequer, para a construção do complexo, que já tem 55% das obras físicas concluídas, totalmente financiadas pela Petrobras.
*Texto originalmente publicado no Jornal Brasil Econômico, em 16/08/12
Adriano Pires
Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)

2- Os impactos da seca
Este texto tem o objetivo de discutir os prováveis impactos primários e secundários nas integradas cadeias produtivas de alimentos, bioenergia, fibras e outras advindos do fato das secas que atingem a produção norte-americana, principalmente, mas também as produções de Índia, Rússia, Ucrânia e Cazaquistão. Os EUA, principal produtor mundial de grãos enfrentam a maior seca dos últimos 50 anos, que já afetou 37% das propriedades e 43% da área agrícola.
Continuando a seca, os efeitos podem ser desastrosos em algumas cadeias produtivas, trazendo reflexos para mais de uma safra e inclusive mudanças de planejamento de plantio, de políticas públicas e estratégias privadas nas organizações. São 20 impactos aqui lembrados.
1 - Num primeiro momento houve grande aumento dos preços da soja e milho, e a partir destes aumentos, as cotações de outros grãos também subiram.
2 - Dependendo do volume de estoques que serão utilizados, seus níveis podem cair a volumes preocupantes, o que pode fazer esta situação de preços perdurar por mais de uma safra.
3 - Os efeitos nos países pobres importadores de comida podem ser devastadores, uma vez que preços de alimentos são diretamente ligados a estabilidade política e os orçamentos para programas assistenciais e os próprios orçamentos das famílias passam a ser insuficientes.
4 - Impacto também nos países de grandes populações de classe média, como China, cada vez maiores importadores de alimentos, que alocarão mais recursos para importações.
5 - Com maiores preços dos grãos, os impactos nos custos da alimentação animal são grandes, reduzindo as margens das empresas de carnes e lácteos, uma vez que a transferência de preços aos supermercados muitas vezes não é imediata.
6 - O mesmo efeito ocorre com as empresas produtoras de biocombustíveis a partir de grãos, pois com preços de insumos mais altos, as margens são menores.
7 - Se os biocombustíveis aumentarem de preços, há reflexos em seu consumo, migrando para o consumo de petróleo, aumentando as pressões também para que este aumente de preços.
8 - Petróleo aumentando de preços aumentam os custos de produção e de transporte de alimentos, trazendo outro impacto negativo das secas.
9 - O aumento de preços de alimentos nos supermercados vai forçar as empresas de alimentos a cortarem custos, podendo refletir em seus orçamentos para propaganda, embalagem e até inovação, postergando projetos.
10 - Da mesma forma, como o alimento é o último item a ser cortado do orçamento de uma família, devem migrar recursos a serem utilizados em outros mercados, como entretenimento, eletrodomésticos e outros, para o consumo de alimentos.
11 - Produtores não afetados pela seca terão margens significativamente maiores, o que pode trazer valorização de terras e até dar mais velocidade ao processo de concentração existente na agricultura.
12 - Há o risco de se reduzir os mandatos de mistura de biocombustíveis na gasolina em diversos países, mais notadamente nos EUA, onde a pressão de grupos contrários ao etanol é forte para liberar milho para alimentação, o que traria grave impacto as indústrias de etanol, mas seria também uma ameaça ao Brasil, provavelmente a maior.
13 - O uso de mais petróleo e menos biocombustíveis também vai agravar as emissões de carbono, trazendo mais poluição.
14 - Aumento de preços de alimentos traz mudança de hábito de local de consumo, aumentando a venda em supermercados e diminuindo os gastos na alimentação fora do lar (restaurantes)
15 - O hemisfério sul vai ser estimulado a plantar mais soja e milho, interferindo nas áreas de algodão, trigo, cana, girassol, entre outras, o que pode refletir preços maiores em virtude de menores áreas plantadas e consequentemente, menor produção.
16 - Por outro lado, bons preços trarão maiores investimentos em insumos e tecnologia, o que aumentará a produtividade nestas propriedades, contribuindo para repor estoques mundiais mais rapidamente que em condições normais.
17 - Seguradoras, principalmente nos EUA, terão grande impacto, bem como o orçamento dos Governos. Impacto também em pequenos municípios dependentes da agricultura, que com a seca, perdem importante renda.
18 - A menor produção de cana na Índia pode fazer este país voltar ao mercado comprador de açúcar, ou exportar menos, contribuindo para uma retomada dos preços do açúcar no mercado mundial, beneficiando o Brasil.
19 - Maiores preços de alimentos incentivarão o fortalecimento de programas para reduzir o alto desperdício nas cadeias agroalimentares. Haverá também mais pressão nas empresas de insumos para produção de plantas mais tolerantes às secas.
20 - Os efeitos econômicos nas balanças comerciais, taxas de câmbio e crescimento em diversos países tendem a ser grandes, o que motivará políticas regulatórias de cotas, taxas e outras a disposição de Governos, causando mais distúrbios nas cadeias produtivas integradas.
Aqui estão listados alguns dos possíveis impactos nas intrincadas cadeias produtivas mundiais de alimentos. Alguns pesquisadores têm alertado que estas secas tendem a ser mais frequentes, principalmente nos EUA, o que deve estimular o plantio no hemisfério sul, beneficiando o Brasil. Isto tudo vem junto com o grande crescimento do consumo mundial de alimentos, portanto está armado um quadro preocupante. Definitivamente o assunto da crise alimentar volta às mesas das famílias e das discussões privadas e públicas.
*Texto originalmente publicado no Portal Brasil Economico, em 13/08/12
Marcos Fava Neves
Professor titular de planejamento e estratégia na FEA/USP
Campus Ribeirão Preto e coordenador científico do Markestrat

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