terça-feira, 10 de janeiro de 2012

IPGAP OIL & GAS & ENERGY NEWS - N° 64

I– NOTICIAS

1- Centro de Tecnologia da FMC é inaugurado hoje no Rio
Fonte: Redação TN Petróleo
A FMC Technologies, líder na fabricação de equipamentos submarinos para a indústria do petróleo no mundo, inaugurou na manhã desta segunda-feira (9) seu Centro de Tecnologia no Parque Tecnológico do Rio, na Ilha do Fundão. Este é o terceiro centro da empresa, os outros dois ficam nos Estados Unidos e na Noruega.
O projeto do centro de pesquisas envolveu R$ 70 milhões e ocupa uma área de 22 mil metros quadrados no local. A estrutura conta com uma unidade para testes de equipamentos e tecnologias, que já funciona deste setembro de 2011, e um pavilhão de engenharia, que contará com 300 profissionais. A companhia também instalou um simulador de operações submarinas na base de Macaé, que será utilizada para ampliar a atuação na área de ROVs.

2- ExxonMobil comemora
Fonte: Redação TN Petroleo
Prestes a completar 100 anos de atividade no Brasil em janeiro próximo, a ExxonMobil tem mais um motivo para celebrar. O escritório de Exploração e Produção do Rio de Janeiro está celebrando a marca de 800 mil horas trabalhadas – 14 anos -- sem incidentes reportáveis. Já no terminal da Ilha do Governador a marca é de nada menos que 31 anos sem incidentes de trabalho com afastamento.
Esses dados são bastante significativos. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), todo ano ocorrem 1,3 milhão de acidentes de trabalho no Brasil. As principais causas são o descumprimento de normas básicas de proteção aos trabalhadores e as más condições nos ambientes e processos de trabalho. Ainda de acordo com a OIT, o Brasil ocupa o 4º lugar em relação ao número de mortes, com 2.503 óbitos. O país perde apenas para China (14.924), Estados Unidos (5.764) e Rússia (3.090).

3- Sinochem compra participação em blocos de petróleo no Brasil
Fonte: Valor Online
O grupo Sinochem - empresa chinesa líder em suprimento de produtos químicos - fechou acordo para a compra de uma fatia de 10% em cinco blocos de exploração de gás natural e petróleo em águas profundas da francesa Perenco na costa brasileira.
A compra da fatia dos projetos na bacia do Espírito Santo “marca o início do desenvolvimento mais forte da companhia na América do Sul”, disse a companhia em nota publicada em seu site, sem dar detalhes financeiros da operação. A compra feita pela unidade da Sinochem no Brasil está sujeita a aprovação do governo.
Desde o começo de 2010, companhias de energia chinesas, incluindo o Grupo Sinochem, adquiriram ao menos U$21 bilhões em ativos na América Latina para ajudar no suprimento da segunda maior economia do mundo, a China, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
De acordo com um assessor de imprensa do escritório de Beijing da companhia, o Grupo Sinochem não vai comentar a compra. Nicolas de Blanpre, porta-voz da Perenco em Paris, confirmou o acordo com a Sinochem sem, no entanto, dar mais informações.
Os blocos se encontram sob uma lâmina d´água de 100 metros a 2 mil metros de profundidade, de acordo com informações disponíveis no site da Perenco. A OGX Petróleo e Gás Participações SA, controlada pelo bilionário Eike Batista, detém 50% do projeto. Com os 40% restantes, a Perenco continuará sendo a operadora dos blocos, de acordo com dados do site da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
A estatal Sinochem pagou à Statoil ASA U$3,07 bilhões ano passado, por 40% do campo de Peregrino, na costa brasileira. As companhias acordaram em buscar conjuntamente outras oportunidades de exploração no Brasil e em outros países.
Baseada em Beijing, a Sinochem assinou um acordo com a Petrobras, no ano passado, para a cooperação em exploração e produção.

4- Novo edital para o pré-sal
A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) planeja lançar novo edital prevendo financiamento para projetos destinados ao pré-sal entre março e abril deste ano. As áreas prioritárias devem ser definidas em fevereiro, quando ocorre reunião entre os representantes dos fundos setoriais de ciência e tecnologia, mas é certo que recursos para projetos ligados à prevenção de acidentes e recuperação de ambientes degradados sejam disponibilizados.
A expectativa é que o edital tenha os mesmos moldes da primeira chamada da Finep para o pré-sal, lançada em dezembro de 2010. A publicação previa R$ 115,7 milhões para financiamento de aproximadamente 60 projetos, com a exigência de que fossem desenvolvidos por meio de cooperação entre empresas e instituições de ciência e tecnologia (ICTs) brasileiras.
De acordo com a chefe do Departamento de Instituições de Pesquisa da Finep, Cláudia Perasso, os recursos relativos à primeira chamada, cujas propostas tiveram análise concluída somente ao final do ano passado, serão contratados ainda este mês.
O intervalo de um ano se deveu à metodologia para submissão de propostas empregada no edital. “Foram duas fases: na primeira, a empresa apresentava a demanda, para depois buscar a ICT e, finalmente, na segunda fase, apresentar o projeto cooperativo final”, explica Cláudia.


II– COMENTARIOS

1- Etanol EUA: caem subsídios e barreira tarifária. Parte I
Com o início do recesso parlamentar dos membros do Congresso dos EUA, acontecido em 23 de dezembro, caem automaticamente os subsídios que eram praticados em favor dos misturadores de etanol de milho à gasolina, bem como as tarifas de importação aplicadas ao etanol proveniente de terceiros países, que não os membros do CBI - Caribbean Basin Initiative, dezessete países localizados na América Central e região caribenha. Tais subsídios e tarifas haviam sido prorrogados até 31 de dezembro de 2011 e vigoraram, em diferentes formas, por mais de três décadas. Nada que já não estivesse certo de acontecer, eis que sequer lobby foi feito este ano para sua renovação, pois nem mesmo ambiente político ou econômico existiram para ter sido iniciado qualquer pleito.
Os subsídios pagos a tais distribuidoras que fazem a mistura de etanol à gasolina, custavam ao contribuinte americano cerca de US$ 6 bilhões por ano, e a receita da tarifa de US$ 0,54 sobre cada galão importado servia como uma contra-partida para amenizar o impacto deste desembolso aos cofres do Tesouro norte-americano. Para a indústria brasileira esta tarifa impedia que o etanol brasileiro chegasse ao mercado dos Estados Unidos com preços competitivos, impedindo uma livre concorrência.
Esta alteração na legislação, esperada há tantos anos, pode ter consequências importantes para a lógica do mercado internacional de biocombustíveis. Como hoje o mercado norte-americano paga um certo prêmio para o nosso bom etanol combustível vindo da cana, em circunstâncias várias poderemos ter uma situação em que - comercialmente - valha a pena para o Brasil importar etanol dos EUA, a preços mais baixos e concomitantemente exportar nosso produto para os norte-americanos com um sobrepreço.
Claro que as implicações políticas internas seriam grandes se, em um momento em que entramos em uma longa entressafra de um ano em que tivemos grande queda na produção de etanol, isto fosse cogitado de imediato. O governo tenta regular o setor transferindo o controle da cadeia sucroalcooleira para a ANP e ao mesmo tempo estabelecendo linhas de financiamento (tardias, é bem verdade) para a estocagem de etanol para abastecimento adequado na entressafra. Por isto tudo é que o efeito prático da queda dos subsídios e da tarifa de importação somente terão efeito a médio prazo. No próximo capítulo vamos falar da importância desta decisão para que um dia o etanol combustível venha a se tornar uma commodity.
Fecho este artigo com uma frase do presidente da Unica - União da Indústria da Cana-de-Açúcar: "O que conta é o baixo uso de energia fóssil para produzir a mais elevada quantidade de energia renovável possível, algo que a cana faz melhor do que qualquer outra matéria prima. E na atual conjuntura global vale muito a redução de emissões de gases que causam o aquecimento global".
Artigo publicado originalmente na Revista Exame em 24/12/2011
Paulo Costa Especialista em agronegócios e bionergia, sócio-diretor de PFSCosta e Associados. Possui mais de 35 anos de experiência nos setores agro, energia e logística, tendo ocupado cargos de direção em grandes empresas.

2- Agora o etanol combustível será uma "commodity"?  Parte II
Bastou acontecer a esperada queda dos subsídios oficiais à produção e mistura de etanol de milho nos EUA (e da tarifa de importação de etanol de países terceiros que não do CBI) para algumas vozes considerarem que, agora sim, o etanol combustível será uma commodity internacional. Sem dúvida, o livre comércio é uma das condições básicas para ser atingido este status para o principal produto bioenergético. Mas este fato, isoladamente, significa muito pouco, mesmo porque outros destinos internacionais mantêm barreiras comerciais, em alguns casos não-tarifárias, que nos impedem de dizermos que o mercado está realmente livre.
Vários fatores precisam se unir para um dia podermos chamar o etanol combustível de uma commodity global. Alguns deles são possíveis de se obter com um pouco de boa vontade e negociação entre as partes interessadas: em primeiro lugar uma padronização das especificações de qualidade, que já à partida apresenta alguns problemas. Em seguida, um contrato padrão internacional que seja aceito, pelo menos em vários pontos capitais, para disciplinar o comércio global. O ideal seria que este contrato comercial padronizado fosse acompanhado por um contrato de afretamento marítimo que respeitasse as peculiaridades do transporte de etanol (ainda se usa prioritariamente o ASBATANKVOY, que é um contrato desenhado para transporte de granéis líquidos em navios tanques que carregam produtos químicos e derivados de petróleo).
Mas falta o principal, falta volume suficiente para se criar mecanismos de mercado que garantam uma certa previsibilidade de preços e que tragam segurança aos negócios. Sem volume não se conseguirá estabelecer uma bolsa de futuros e opções que crie este elemento essencial. Por mais paradoxal que possa parecer, hoje estamos mais distantes do que já estivemos, em passado recente,, quando a previsão de crescimento do comércio internacional de etanol combustível era factível, a ponto do mercado ter gerado, em nossa IETHA - International Ethanol Trade Association, importante fórum para desenvolvimento de alguns dos tópicos estruturais aqui mencionados.
O que mudou? Mudou a percepção de que o álcool anidro (aquele que é adicionado à gasolina, o único que pode ser considerado como passível de se tornar uma commodity) é produto para mercado interno, para consumo doméstico. Em um mundo onde a grande produção de petróleo está em países e regiões com alta dose de instabilidade política e social, o etanol passou a ser o "ouro do reino". Quem o produz quer usá-lo para si, na máxima proporção possível, diminuindo a necessidade da utilização da gasolina. Além do mais, a cada dia que passa novos usos para o etanol vão sendo tecnologicamente desenvolvidos, particularmente para o álcool hidratado (não bastasse sua grande necessidade para abastecer - no Brasil - os carros flex).
Este assunto pode render muita conversa e muitos rabiscos, que não cabem nos limites deste texto. Termino por aqui, longe de meu entusiasmo de 2007, para - cético - confessar que creio que o "sertão vai virar mar"* antes que o etanol combustível vire uma commodity internacional. O lado positivo desta opinião puramente pessoal é que talvez isto seja muito bom para o nosso país.
Mas antes quero trazer um último alerta, que pouca gente está antecipando. A queda da barreira tarifária para entrada de etanol anidro brasileiro nos EUA vai provocar, inevitavelmente, que ao longo da safra abram-se com mais frequência as chamadas "janelas" comerciais, quando os norte-americanos serão capazes de competir fortemente com os preços do mercado interno, artificializados que são pela administração imposta ao preço da gasolina. Aí a "onça vai beber água" e veremos como a ANP, nova senhora da regulação da cadeia sucroalcooleira, vai se comportar. Mas isto é tema bem mais polêmico para discussão futura.
"O sertão vai virar mar, dá no coração, o medo que algum dia, o mar também vire sertão", trecho da linda canção "Sobradinho", de Sá e Guarabyra.
Artigo publicado originalmente no Portal da Revista Exame em 24/12/2011
Paulo Costa Especialista em agronegócios e bionergia, sócio-diretor de PFSCosta e Associados. Possui mais de 35 anos de experiência nos setores agro, energia e logística, tendo ocupado cargos de direção em grandes empresas.

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