I – NOTÍCIAS
1- Pré-sal pode atrair fornecedores alemães ao Brasil
O potencial de negócios a partir das atividades de exploração e produção de petróleo na camada pré-sal pode servir de estímulo para atração de fornecedores alemães de navipeças para o Brasil. A avaliação é do diretor-executivo do escritório fluminense da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (conhecida como AHK-RJ), Hanno Erwes.
"A Alemanha é a maior exportadora de navipeças do mundo. O pré-sal, pela distância e profundidade, precisará de muitos navios e plataformas. Eu quero trazer os alemães como fornecedores para este mercado", afirmou Erwes, durante a cerimônia de posse do novo presidente da AHK-RJ, Sergio Boanada.
Erwes explicou que a política de conteúdo local brasileira é natural e deve também servir de estímulo para as companhias alemães interessadas em investir no país. "Estimulamos a empresa a vir para o Brasil, criar parceria com outra empresa do mesmo segmento e automaticamente atender o conteúdo local".
Segundo o diretor-executivo, a alemã Thyssenkrupp "teve as suas razões" para colocar à venda a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA). "Só posso lamentar. Foi o maior investimento privado alemão no Rio de Janeiro nos últimos 20 anos. Mas o caso da CSA é mais conjuntural", disse Erwes, citando o nome de outras empresas alemães, como a Bayer, com investimentos expressivos no Brasil. "E a E.On, que está acreditando no projeto de Eike Batista", ressaltou.
O novo presidente da AHK-RJ, Sergio Boanada, diretor da Siemens no Brasil, ressaltou que o Rio de Janeiro tem um potencial para a "green economy", a partir de projetos de crescimento sustentável, consumo racional de energia e mobilidade urbana.
"A Alemanha tomou uma decisão de cortar as suas usinas nucleares até 2030. E está desenvolvendo muitos esforços em energias renováveis. E o Brasil pode fazer intercâmbios nessa área", afirmou.
Ele lembrou que o fato de o ano da Alemanha no Brasil começar em maio pode estimular parcerias entre os dois países no longo prazo. "O Rio é foco para todo mundo hoje. E para os alemães também", acrescentou Boanada. O mandado do presidente da AHK-RJ tem duração de dois anos, prorrogáveis por mais dois.
21/03/13
Rodrigo Polito
Fonte: Valor Econômico
2- Petrobras tem proposta por Refinaria
Fonte: Valor Econômico - 22/03/2013
A Petrobras recebeu uma proposta de US$ 650 milhões pela refinaria Nansei Sekiyu K.K., em Okinawa, no Japão. O possível comprador é uma companhia sediada em Cingapura. Segundo o 'Valor' apurou com fontes a par das negociações, a oferta pela refinaria é de US$ 80 milhões e o restante será pago pelos estoques de produtos (petróleo e combustíveis), armazenados no local.
A refinaria do Japão é um dos cerca de 40 ativos de exploração e produção, refino, distribuição de gás e geração elétrica que serão vendidos no Brasil, América Latina, Estados Unidos e África em 2013 para engordar em US$ 9,9 bilhões o caixa da Petrobras. Também estão à venda participações acionárias nas distribuidoras Gaspisa (24,5%), CEBGas (32%), Goiás Gás (19,5%); Gasap (24,5%) e SCGás (23%), que não são atendidas por sua malha de gasodutos. Essas são apenas algumas das participações da estatal, que é sócia de 21 distribuidoras de gás canalizado no país.
No ano passado, a estatal recebeu uma proposta da Concord Energy, de Cingapura, pela refinaria Nansei Sekiyu, mas na ocasião o preço oferecido foi considerado baixo. A Petrobras pagou cerca de US$ 57 milhões pela Nansei. Agora, o conselho de administração da empresa ainda precisa aprovar a proposta para que seja assinado o contrato de venda das ações.
A refinaria tem capacidade para processar 100 mil barris de petróleo leve por dia, e também um terminal capaz de armazenar quase 10 milhões de barris de petróleo e derivados. A Petrobras comprou 87% dessa refinaria em 2008, de uma subsidiária da ExxonMobil por aproximadamente US$ 50 milhões. Em 2010 pagou outros US$ 7 milhões pelos 12,5% da Sumitomo.
Já a refinaria de Pasadena, no Texas, cuja aquisição está sendo investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), ficou de fora. No resultado do quarto trimestre, a Petrobras fez uma baixa contábil (impairment) de R$ 464 milhões referente à refinaria americana, mas podem vir outros. E se ela for vendida agora, a estatal precisará realizar um prejuízo bilionário. Ela gastou US$ 1,1 bilhão na aquisição e a única oferta que recebeu, da refinadora Valero, o preço oferecido foi de US$ 80 milhões.
Entre os ativos da área de gás e energia no Brasil, a Petrobras decidiu se desfazer de todas as termelétricas movidas a óleo combustível e óleo diesel (cerca de 1.035 megawatts em capacidade de geração) e os quatro parques eólicos em Mangue Seco, no Rio Grande do Norte, com capacidade de gerar 104 MW. Com um parque que soma 6.952 MW, a estatal de petróleo é a sétima maior geradora de energia do país.
A Petrobras controla ou tem participação societária em oito termelétricas movidas a óleo combustível e diesel. Também é dona de sete térmicas que podem usar óleo ou gás natural com quase 1.700 MW de capacidade instalada. A decisão da companhia é de não vender suas térmicas a gás, consideradas estratégicas para o setor elétrico brasileiro. A área teve lucro de R$ 1,638 bilhão em 2012.
Na área de exploração e produção (upstream) estão à venda metade da participação acionária da Petrobras nos campos de Xerelete e Maromba, onde ela tem 41,2% e 70% respectivamente, operados pela Total e Chevron. Nos quatro campos que formam o Parque das Conchas, operado pela Shell, tudo foi posto à venda. A Petrobras tem 35% da área, onde foram descobertos os campos de Ostra, Abalone, Argonauta e Nautilus.
No exterior, estão atraindo grande interesse os ativos da estatal no Peru, onde foram feitas descobertas gigantes de gás nos blocos 57 (campo de Sagari) - a brasileira tem 46,16% do projeto em associação com a Repsol - e no bloco 58, onde foram encontrados os reservatórios de gás Urubamba, Picha e Taini. A presidente da Petrobras, Graça Foster, disse esta semana que não vai sair totalmente da Argentina, onde procura sócios.
3- Qualificar mão de obra é principal desafio
Fonte: Noticiário cotidiano - Portos e Logística
A qualificação de cerca de 35 mil trabalhadores nos próximos cinco anos é o principal desafio diagnosticado no Encontro Estadual do Pacto pelo Pecém que teve início ontem, no auditório Deputado João Frederico Ferreira Gomes, na Assembleia Legislativa. O evento tem o objetivo de discutir e consolidar o diagnóstico sobre a versão preliminar do Cenário Crítico do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP). O alerta é do deputado Lula Moraies (PC do B), presidente do Conselho de Altos Estudos e Assuntos Estratégicos da Assembleia.
Segundo ele a falta dessa mão de obra qualificada preocupa.”Precisaremos de 35 mil pessoas qualificadas para trabalhar em todas as empresas do complexo. Capacitar essa quantidade de pessoas não é tarefa simples”, afirmou ele. Cerca de 65 entidades participam das discussões que terminam hoje quando serão definidos os desafios e encaminhamentos a serem tomados.
Outra questão relevante, segundo o parlamentar, é o planejamento urbano dos municípios de Caucaia e São Gonçalo do Amarante. “Essas regiões vão receber muita gente. É preciso que isso se dê de forma planejada para não acontecer a favelização, como ocorreu em outros empreendimentos” alertou o parlamentar.
Rosana Garjulli, que coordenou a elaboração do documento prévio, reforçou a importância da preocupação com a falta de mão de obra. “Não envolveria apenas capacitação das pessoas da região, mas também de outras regiões, como Sobral, onde há escolas técnicas” apontou ela.
Após o documento ser aprovado, na reunião de hoje, as propostas serão encaminhadas a instituições que ficarão responsáveis por trabalhar nas propostas. O documento deve ser lançado publicamente em trinta dias.
Mobilização
O presidente da Assembleia, deputado José Albuquerque, participou da abertura do evento onde falou sobre a “campanha pró-refinaria” - uma mobilização do legislativo cearense pela implantação da Refinaria Premium II. Segundo ele, a campanha envolverá pequenos, médios e grandes empresários, prefeitos, vereadores, deputados, senadores e a população civil de 8 regiões do Estado para que a refinaria fique pronta no menor tempo possível.
“Vamos a oito regiões do Ceará para explicar a importância da refinaria para o Estado. Muita gente não tem noção do que é uma refinaria. O terreno já está pronto, a licença já foi dada pela Funai, já está na Semace. As coisas estão acontecendo.”
4- OGX encontra mais gás natural no Maranhão
A OGX, petrolífera do grupo EBX, notificou à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a existência de indícios de gás natural no bloco PN-T-49, na Bacia terrestre do Parnaíba, no Maranhão. O poço onde ocorreu a descoberta foi o 4OGX108BMA.
Essa não é a primeira vez que a petroleira de Eike Batista encontra hidrocarbonetos na região. No início do mês, a companhia comunicou a conclusão de testes de formação no poço OGX-107, acumulação de Fazenda Chicote.
A OGX é a operadora do PN-T-49, com 66,6% de participação na OGX Maranhão, sociedade criada com a coligada MPX Energia (33,3%), empresa de energia do grupo EBX. A OGX Maranhão tem 70% do PN-T-49. Os 30% restantes pertencem à Petra Energia.
Na semana passada, a OGX submeteu à ANP três declarações de comercialidade, das acumulações de Pipeline, Fuji e Illimani, na Bacia de Campos. A empresa também enviou à autarquia os planos de avaliação de descoberta para as acumulações de Tulum, Viedma e Vesúvio, também na Bacia de Campos, e de Curitiba, Belém e Natal, na Bacia de Santos.
Rodrigo Polito
Fonte: Valor Online
5- Volta de térmicas a carvão pode liberar R$ 6 bi em projetos
Cerca de R$ 6 bilhões em projetos poderão ser desengavetados se o governo federal permitir que usinas térmicas movidas a carvão participem do próximo leilão de energia, a ser realizado no segundo semestre deste ano.
O último leilão que autorizou a participação das usinas a carvão foi realizado em 2008. Questões ambientais e de mercado (a energia de termelétricas é mais cara) foram responsáveis por excluí-las das disputas seguintes.
A volta do carvão ocorreria para garantir uma maior segurança energética e evitaria sustos em decorrência do nível dos reservatórios de água.
Hoje, a fonte gera 1,4% da matriz energética do país -a capacidade instalada é de 1.752 MW, segundo a Associação Brasileira do Carvão Mineral.
"Outros 2.452 MW, cujos projetos demandarão cerca de R$ 6 bilhões, estão aptos a participar de leilões, pois já têm licença ambiental prévia", diz o presidente da entidade, Luiz Fernando Zancan.
Um dos empreendimentos será o da Usitesc, das empresas Carboníferas Criciúma e Metropolitana, além do fundo de investimentos Energia PCH.
"Desde 2009 estamos aguardando. Chegamos a estar qualificados para o leilão de 2009, que foi cancelado", diz Kaioa Gomes, responsável pelo projeto de R$ 1,6 bilhão.
"Era inviável implantarmos a usina para operarmos no mercado livre, onde os preços são muito baixos."
A empresa MPX, de Eike Batista, também tem projetos já licenciados.
Maria Cristina Frias com colaboração de Luciana Dyniewicz,
Ronaldo Paschoalino e Daniel Lomonaco
Fonte: Folha de S. Paulo
II – COMENTÁRIOS
1- No horizonte, apagões
Nos dez anos de governo do PT a política energética pode ser dividida em dois períodos.O primeiro vigorou até a crise econômica mundial de 2008 e foi caracterizado pelo incentivo a novos investimentos e pela preocupação com a garantia de suprimento. No setor de petróleo o governo manteve o marco regulatório, dando continuidade aos leilões de petróleo, e a defasagem dos preços da gasolina e do diesel, como era pequena, penalizava pouco o caixa da Petrobras. Os biocombustíveis viveram seu melhor momento nesse período.
Todos lembram que o presidente Lula anunciava aos quatro cantos do mundo que o Brasil seria a Arábia Saudita verde. É nesse período que o governo lança o Programa do Biodiesel e os investimentos, a produção e o consumo de etanol batem recordes. No biodiesel o governo estabelece a meta da mistura como diesel em 5% e assim dá previsibilidade, o que levará à construção de várias unidades de produção. No etanol a política de preços da gasolina permite competitividade ao etanol, fazendo com que autoridades do governo afirmassem que a gasolina no Brasil passaria a ser o combustível alternativo.
No setor elétrico, o governo, preocupado em evitar novo racionamento, de uma forma inteligente promoveu leilões de oferta de energia para o mercado cativo e manteve o mercado livre. As regras dos leilões beneficiavam a vitoria das térmicas,dentro da ideia de garantir o abastecimento. Nesse período, o governo acreditava que a melhor maneira de aumentar a oferta de energia elétrica seria através da concorrência.
Com a chegada da crise econômica e com o anúncio da descoberta do pré-sal, a política energética brasileira muda de rota. A nova rota será caracterizada pelo maior intervencionismo do Estado, pelo populismo dos preços. O primeiro setor vítima da nova política energética foi o do petróleo. A descoberta do pré-sal foi o álibi que os nacionalistas xiitas do PT precisavam para fechar o mercado do petróleo no país. Desde 2008 não foram realizados mais leilões e foi aprovado um novo marco regulatório, que dá um tratamento diferencial para a Petrobras. Ao mesmo tempo, o governo, tentando evitar que a crise econômica causasse maiores impactos no país, incentivou a venda de automóvei.
Uma das políticas adotadas para aumentar a venda de automóveis foi congelar o preço da gasolina. A política de congelamento incentivou o crescimento do consumo e das importações de gasolina, ferindo demorte o caixa da Petrobras. Ou seja,o governo deumais deveres e retirou os direitos da empresa de ter liberdade de fixar os preços dos seus produtos. Nesse período os biocombustíveis viveram e vivem seu inferno astral. O projeto Arábia Saudita verde morreu. Não existe mais marco regulatório, com o congelamento do preço da gasolina o etanol perdeu inteiramente sua competitividade, levando a uma quebradeira de inúmeras usinas, e o biodiesel está comuma enorme capacidade ociosa e sem nenhuma previsibilidade do que vai ocorrer com o percentual de mistura.
No setor de energia elétrica o governo abandonou a preocupação com a garantia de abastecimento e passou a ter uma política dedicada, exclusivamente, àmodicidade, oumelhor , ao populismo tarifário.Oclímax dessa política foi a publicação no ano passado daMP 579, que ignorou a necessidade de novos investimentos e promoveu um subsídio nas tarifas nummomento de escassez de energia.
A escassez de energia, causada pela falta de chuvas, tem obrigado o governo a ligar as térmicas a gás, a carvão e a óleo, todas mais caras que as hidrelétricas. Isso deverá anular amaior parte da redução de energia, principalmente, no setor industrial. E o que é pior: deverá obrigar o governo a dar soluçõesmais atrapalhadas e completamente fora da lógica de mercado para preservar a artificialidade da redução dos preços vindos por Lei.
A atual política energética confunde energia barata comenergia competitiva e isso no curto prazo destruiu a Petrobras e a Eletrobras e, no longo prazo, promoverá apagões.
*Texto originalmente publicado no O Globo, no dia 09/03/2013.
Adriano Pires
Diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE)
2- Uma oportunidade histórica perdida?
A História está cheia de exemplos de que uma escolha errada tem consequências funestas e uma escolha certa produz milagres. O grande desafio é fazer as escolhas certas - e o próprio conceito de "governar" significa escolher entre as opções disponíveis.
O governo brasileiro, em pleno regime militar, fez em 1975 uma escolha de grande sucesso, que foi lançar o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), o único combustível, existente até hoje, capaz de substituir a gasolina em grandes quantidades, com as características que todos desejam: ser economicamente competitivo e renovável, isto é, sem os problemas que caracterizam os combustíveis fósseis.
O programa sofreu muitos tropeços ao longo dos últimos 35 anos, mas sobreviveu. E chegou a substituir 50% da gasolina que seria consumida no País se ele não existisse.
As expectativas de expansão da produção de etanol da cana-de-açúcar no Brasil sempre foram bem fundadas. Ele poderia ser exportado para os Estados Unidos, onde o uso do milho para produzir etanol não tem as vantagens econômicas e ecológicas do nosso álcool de cana. Tampouco dispõem de tais vantagens os países da Europa, que usam beterraba e outros produtos e nos quais o etanol é mais caro. Não é de admirar, pois, que esses países tenham adotado medidas protecionistas que impediram a conquista do seu mercado interno pelo etanol brasileiro.
Sucede que as barreiras adotadas pelos Estados Unidos já caíram. E as europeias vão acabar caindo também, porque simplesmente não há condições geográficas e climáticas para produzir grandes quantidades de etanol na Europa. O Brasil poderia, portanto, ocupar o espaço deixado pelos Estados Unidos.
Com a tecnologia existente atualmente, somente etanol produzido da cana-de-açúcar, em países tropicais, pode atender às necessidades de combustível renovável. Novas tecnologias, as de segunda geração, poderão mudar esse quadro. Isso, contudo, levará alguns anos. Até agora os trabalhos nessas áreas estão sendo testados em diversas plantas-piloto, que não se mostraram ainda economicamente viáveis e em alguns casos, até mesmo tecnologicamente inviáveis.
Além disso, a produtividade em litros de álcool produzidos por hectare da tecnologia em uso no Brasil tem aumentado sistematicamente em cerca de 3% ao ano desde 1980, o que é realmente extraordinário. Novos ganhos de produtividade são ainda possíveis. Não é preciso esperar pela segunda geração para competir.
Há, pois, uma janela de oportunidade para o etanol do Brasil e de outros países com clima adequado e terra abundante, o que significa, principalmente, a África abaixo do Saara e alguns países da América Latina. Apenas para dar um exemplo, a União Europeia acaba de sobretaxar a importação de etanol dos Estados Unidos - cerca de 600 milhões de litros por ano - para proteger sua indústria. Essa sobretaxa não se aplica ao Brasil, que poderia facilmente conquistar esse mercado.
Os países da Europa e os Estados Unidos acabarão por se render à evidência: produtos tropicais são produzidos nos trópicos, mas podem ser importados e comercializados pelas empresas europeias e norte-americanas. Isso é verdade desde os tempos da Roma imperial, 2 mil anos atrás, quando o trigo consumido na Itália, produto essencial para o Império, era produzido no Norte da África, que na época era bem mais fértil do que é hoje. Parte da riqueza do Império Britânico veio da produção de chá na Índia - que não era produzido na Inglaterra, mas era comercializado pelos ingleses.
Isso é o que deve acontecer com o etanol da cana-de-açúcar. Existem no mundo mais de cem países produtores de açúcar (usando cana), a maioria na África e na América Latina, e eles poderiam com relativa facilidade usar parte da produção de cana para produzir etanol. Aos poucos isso está ocorrendo na Colômbia, em Angola, Moçambique e vários outros países. Neles é que existe uma grande oportunidade de expansão e o governo brasileiro precisa acordar para ela.
Quando houver muitos produtores, o etanol se transformará numa commodity, como é o açúcar, e contratos de fornecimento a longo prazo - que são raros hoje - passarão a ser a norma. Para não perder a oportunidade histórica de liderar a adoção do etanol da cana-de-açúcar como substituto da gasolina no mundo o governo brasileiro precisa, contudo, remover com urgência os obstáculos que estão asfixiando a sua produção, no momento, como o congelamento do preço da gasolina desde 2007, o que viola as mais elementares regras de uma economia de mercado.
Que a Venezuela, que é um grande produtor de petróleo, o faça, em nome de beneficiar sua população mais pobre, é até compreensível. Mas importar gasolina a preços internacionais de hoje e vendê-la a preços de 2007 é irracional. E a Petrobrás está pagando caro por isso.
O Programa do Álcool no Brasil já enfrentou outros percalços no passado, como o de não ser capaz de abastecer os carros usando etanol puro - em motores especialmente construídos para tal no nosso país -, o que quase destruiu o programa quando o petróleo baixou de preço. O desenvolvimento de motores flexfuel, cuja introdução no mercado foi entusiasticamente apoiada pelo governo do Estado de São Paulo, em 1973, resolveu, todavia, esse problema.
As dificuldades que o setor enfrenta agora, entretanto, são de âmbito nacional e só o governo federal pode resolvê-las. Ao fazê-lo, ele estaria tomando uma decisão histórica: hoje mais energia renovável é produzida como o etanol do que com qualquer outra opção - eólica, fotovoltaica, geotérmica ou solar.
O programa brasileiro de etanol não representa o passado, mas o futuro.
José Goldemberg
Fonte: O Estado de S. Paulo
Professor da Universidade de São Paulo
3- Petrobras venderá usinas térmicas para fazer caixa
Oitava maior produtora de energia elétrica do país, a Petrobras quer reduzir sua participação na geração térmica, segundo apurou a Folha, para se concentrar no seu negócio principal: a produção de petróleo e gás natural.
A empresa não comenta oficialmente o assunto. Segundo duas pessoas próximas ao tema, a Petrobras incluiu algumas de suas usinas termelétricas no seu sigiloso Programa de Desinvestimentos (Prodesin), que prevê obter US$ 9,9 bilhões para os cofres da estatal neste ano.
Os recursos vão ajudar a concretizar o Plano de Negócios 2013-2017, divulgado na semana passada, no valor de US$ 236,7 bilhões.
Anteontem, a presidente da estatal, Graça Foster, disse que aumentou o escopo do Prodesin, mas não revelou quais seriam os ativos disponíveis. Ela só informou que a refinaria de Pasadena (EUA), investigada pelo TCU (Tribunal de Contas da União), saiu da lista de venda.
De acordo com o presidente da Abragef (Associação Brasileira de Geração Flexível), Marco Antônio Veloso, já começaram a surgir rumores entre associados sobre uma possível venda de térmicas da empresa.
"Outro dia me ligou um agente dizendo que teria comprador paras as térmicas da Petrobras, mas só se fosse com venda do controle. Já está havendo um movimento."
Para ele, sempre é época de adquirir bons ativos e a estatal deve conseguir atrair investidores. Segundo suas estimativas, uma térmica a óleo de 100 MW, por exemplo, pode custar entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões. "Mas, como já está pronta e operando, ela [a Petrobras] pode pedir um pouco mais."
O processo ainda está no início e não há previsão de quanto poderá ser arrecadado. O foco principal serão as térmicas que não utilizam gás natural, cuja operação é mais onerosa, mas que encontrariam facilmente comprador.
Fazer fila
"Basta a Petrobras anunciar a venda que vai fazer fila na avenida Chile", diz o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura Adriano Pires, referindo-se ao endereço da sede da Petrobras, no Rio.
As usinas térmicas a gás natural são acionadas antes das a óleo pelo ONS (Operador Nacional do Sistema) por terem custo de operação mais baixo. Desde o fim de 2012, no entanto, todas as usinas térmicas do país estão funcionando em razão dos baixos níveis dos reservatórios das hidrelétricas.
Pires diz acreditar que a Petrobras vá vender participações em distribuidoras estaduais de gás natural. Ele afirma que, para obter recursos, a estatal poderia alugar espaços na infraestrutura que tem pelo país, quando não estiver usando, como gasodutos e unidades de regaseificação.
Para o analista Lucas Brendler, da Geração Futuro, "faz todo sentido a venda das térmicas". Ele afirma que o modelo de aquisições da empresa se esgotou e agora é hora de arrumar a casa, para poder investir em produção de petróleo e fazer caixa.
Denise Luna
Fonte: Folha de S. Paulo