I – NOTÍCIAS
1- Mercado brasileiro de biodiesel e produto agrícola ficará mais atrativo para Europa, prevê embaixador da Espanha
O Brasil pode vender mais combustível aos países europeus após a estatização da empresa YPF pelo governo argentino, avaliou hoje (20) o embaixador da Espanha no Brasil, Manuel de la Cámara. "Acho que os europeus vão comprar mais biodiesel do Brasil. Acho que essa é uma oportunidade para o Brasil vender produtos agrícolas, como soja, além de biocombustíveis e ferro", disse.
De la Cámara disse ainda que a decisão da Argentina de expropriar os 51% das ações da YPF de propriedade da petrolífera espanhola Repsol pode impactar negativamente nos investimentos estrangeiros no país, o que inclui, na sua avaliação, a empresa brasileira Petrobras. "Acredito que a Petrobras e qualquer outro investidor estrangeiro vai pensar muito antes de investir na Argentina", opinou.
O embaixador espanhol ressaltou que "entende" a cautela do governo brasileiro de evitar a comentar o assunto. "São países vizinhos, parceiros comerciais. O Brasil tem de ser neutro."
A embaixadora da delegação da União Europeia no Brasil, Ana Paula Zacarias, espera que a decisão do governo argentino não afete as negociações que ocorrem entre os 27 países membros da União Europeia e os parceiros do Mercosul. "Nos preocupa esse caminho seguido pela Argentina. Mas isso não vai interromper as negociações que estamos fazendo entre Mercosul e União Europeia. O que a Argentina fez foi isolado", disse.
Fonte: Luciene Cruz com edição de Lana Cristina
2- Estoques de petróleo da China em março sobem 2%
Os estoques de petróleo da China aumentaram 2 por cento em março em relação ao mês anterior, com as empresas de petróleo estocando após a forte queda dos inventários desde o quarto trimestre do ano passado.
A reestocagem ajudou a elevar as importações de petróleo ao terceiro maior nível já registrado em março, enquanto o refino de petróleo caiu após fontes altas em fevereiro.
Isso marca a segunda vez em que os estoques da commodity mantidos por refinadores, incluindo a China Petroleum and Chemical Corp (Sinopec Corp), subiram desde setembro, de acordo com um boletim de notícias de Xinhua, com fatos de petróleo, gás e petroquímica.
Jim Bai, Judy Hua e Fayen Wong
Fonte: Reuters
3- Paralisação continua no Comperj
Os 14 mil trabalhadores da construção do Complexo Petroquímico do Rio mantiveram a greve , em sua ultima Assembleia. Eles querem reajuste de 12%, vale-refeição de R$ 300 e reposição de 24 dias parados por greves passadas.
As construtoras oferecem uma tabela para dez categorias que vai de 9,59% a 14,96%, com aumento de 9% para os demais, mas não concordam em repor os dias.
Fonte: Folha de S. Paulo
4- Estudo estima investimentos para a indústria brasileira de R$ 597 bilhões até 2015
Os investimentos na indústria nacional alcançarão R$ 597 bilhões no período de 2012 a 2015. A previsão está em um estudo divulgado hoje (19) pela Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES). O número mapeado representa aumento de 29,5% em relação aos investimentos de R$ 461 bilhões, projetados em pesquisa anterior, referente ao período 2007/2010.
O principal destaque no montante de investimentos previstos para a área industrial é o setor de petróleo e gás, englobando extração e refino, que deverá somar R$ 354 bilhões aplicados. O setor responde por 59% de todos os investimentos da indústria nacional no período pesquisado. No estudo anterior, essa participação era 52% e os investimentos previstos até 2010 alcançavam R$ 238 bilhões.
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, avaliou que além de uma esperada recuperação dos planos de investimento na indústria, haverá "uma firme continuidade nos investimentos em infraestrutura".
O superintendente da Área de Infraestrutura e Insumos Básicos do banco, Nelson Siffert, declarou que os desembolsos previstos para 2013 para infraestrutura, nos segmentos de energia e logística, atingirão R$ 31 bilhões. Isso representará, disse, crescimento de 26% em comparação à projeção de R$ 24,5 bilhões para 2012. Para o presidente do BNDES, "é um investimento qualitativamente importante, porque traz eficiência para o conjunto da economia".
Nelson Siffert acrescentou que, no ano passado, os desembolsos para energia e logística somaram R$ 18,7 bilhões, o que significou aumento de 23% em relação a 2010. "A gente tem crescido em torno de 25% ao ano nos últimos três anos, com projeção de manter nos próximos anos esse patamar". Lembrou, ainda, que a área de infraestrutura deverá abranger 40% dos desembolsos do BNDES este ano. "Imaginando um desembolso de R$ 145 bilhões a R$ 150 bilhões, cerca de R$ 60 bilhões irão para infraestrutura", ressaltou Siffert.
Fonte: Alana Gandra, com edição de Aécio Amado
Fonte: Agência Brasil - ABr
5- Gerdau completa 20 anos no mercado de aços especiais
A gaúcha Gerdau acaba de completar 20 anos de atuação no segmento de aços especiais, com investimentos de mais de US$ 4 bilhões no período. Esses aportes, segundo a siderúrgica, foram utilizados para a aquisição de ativos no Brasil, nos Estados Unidos, na Espanha e na Índia, assim como para a atualização tecnológica de suas operações no segmento.
Hoje, a siderúrgica também está investindo para atender a demanda das montadoras no Brasil. Para isso, está programada a expansão da usina Pindamonhangaba (SP), com a instalação de um novo laminador para aços especiais, além de um novo lingotamento contínuo e um novo forno de reaquecimento para laminação. Esse aporte, anunciado no ano passado, irá aumentar a capacidade de 700 mil toneladas de laminados para 1,2 milhão de toneladas. Já na usina de Mogi das Cruzes (SP), a capacidade de laminação será ampliada de 216 mil para 276 mil toneladas por ano. Esses investimentos deverão entrar em operação até o final do ano.
Na Índia, outro mercado que vem sendo apontado como estratégico para a companhia, a Gerdau começará, neste ano, a operação do laminador de aços especiais, com capacidade instalada de 300 mil toneladas e uma unidade de sinterização, continuará a instalação de uma coqueria e realizará projetos na área de geração de energia.
Fonte: AE - Agência Estado
II – COMENTÁRIOS
1- Análise Combustíveis
O 25º leilão de biodiesel, realizado pela ANP em fevereiro, negociou 700 milhões de litros e movimentou R$ 1,47 bilhão. O preço médio final foi de R$ 2,10 por litro.
Esses valores já incluíram o Fator de Ajuste Logístico, índice que considera o frete no preço. Ao estabelecer esse preço, o deságio médio foi de 12%, maior que os 3,4% registrados no 24º leilão, realizado em novembro de 2011.
O alto deságio resultante do leilão revela que as empresas do setor vêm sendo obrigadas a reduzir suas margens e, consequentemente, a remuneração do investimento.
As empresas vendem o biodiesel nos leilões e usam os contratos como garantia para obter empréstimos. Esses recursos serão direcionados para compra da matéria-prima (empresas não verticalizadas) ou para financiar o esmagamento (verticalizadas).
Dessa forma, a produção de biodiesel não vem remunerando o investimento e passou a servir apenas como instrumento de alavancagem. Esse caminho perigoso pelo qual o biodiesel vem enveredando acaba por frustrar as expectativas dos produtores.
O modelo do leilão atual gera uma pressão baixista de preço, uma vez que todos os produtores concorrem para vender para apenas um comprador, no caso a Petrobras.
Nessa estrutura, é o comprador que exerce o poder de mercado ao estabelecer a quantidade demandada, enquanto os vendedores ofertam seu produto a preços abaixo do que seriam fixados no mercado concorrencial.
Se levada ao limite, a estratégia pode gerar um nível de preços que seria suficiente apenas para cobrir os custos. A queda no preço e a falta de regra que assegure o aumento da quantidade de biodiesel a ser demandada no futuro retiram o foco da produção do biocombustível e desincentivam os investimentos.
A única vantagem do modelo atual está no âmbito tributário e precisaria ser revista no caso de mudança de regras. O regime atual de substituição tributária permite que o produtor repasse seus créditos para a Petrobras, o que não ocorreria caso o biodiesel fosse vendido a outros distribuidores.
Os produtores cobram do governo políticas públicas de longo prazo que reduzam o risco de investimento por meio da adoção de um calendário onde fique claro como deverá ser a evolução da mistura do biodiesel no diesel nos próximos anos.
O segmento, que tem em média 55% de capacidade ociosa, carece também de incentivos à exportação.
A demora na definição de uma política para o biodiesel pode levar à redução de investimentos, culminando numa crise de abastecimento.
Toda atividade que o Estado entender como estratégica requer sustentabilidade política para seu desenvolvimento, já que algumas vezes somente as condições de mercado podem não ser suficientes para a sua consolidação.
**Texto originalmente publicado no jornal Folha de São Paulo, em 20/04/12.
Adriano Pires
Fonte: Folha de S. Paulo
Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura - CBIE
2- Argentina convida Petrobras para ser parceira na YPF reestatizada
Menos de uma semana depois de ter anunciado a expropriação de 51% das ações da Repsol-YPF, o governo da presidente argentina, Cristina Kirchner, ofereceu às estatais Petrobras e Sinopec (China) e à companhia argentina Bridas serem parceiras do Estado na nova YPF. A informação foi publicada pelo jornal argentino "El Cronista", que dá detalhes das conversas que, segundo a Casa Rosada, foram iniciadas nos últimos dias.
Em Brasília o ministro do Planejamento do país e interventor da YPF, Julio de Vido, participou de reunião com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e com a presidente da Petrobras, Graça Foster, para pedir mais investimentos brasileiros na área. Porém, ao final da reunião, Lobão sinalizou que o volume de investimentos deve ser mantido no mesmo patamar do ano passado. Ele disse que a Petrobras investiu R$ 500 milhões na Argentina em 2011, e deve fazer o mesmo este ano.
- Vim conversar com o ministro Lobão sobre o aumento nos investimentos e a participação da Petrobras na Argentina -disse de Vido, ao chegar para o encontro.
A reunião entre Lobão, Graça e de Vido havia sido agendada em março, antes da intervenção na YPF ser anunciada. A agenda do encontro era basicamente o cancelamento de uma concessão da Petrobras na província argentina de Neuquén, confirmada pelo governo provincial há duas semanas. Depois do encontro, nesta sexta-feira, o ministro de Planejamento da Argentina, Julio de Vido, disse que as negociações com a província de Neuquén sobre uma área explorada pela Petrobras "estão muito bem encaminhadas", indicando que deve haver em breve uma solução para a concessão da estatal brasileira no país.
- Esta pequena diferença que surgiu, estamos em vias de resolvê-la. Estamos otimistas de que deverá haver uma solução - afirmou Vido.
A concessão da Petrobras na área de Veta Escondida foi cassada no início do mês, com a província alegando baixos investimentos da estatal brasileira. Vido disse que conversou nesta manhã com o governador de Neuquén, e que "as negociações estão muito bem encaminhadas". Em 2008, a Petrobras havia renovado o contrato de concessão de Veta Escondida até 2027, segundo a empresa. A petroleira, que é a operadora e tem ainda 55% da concessão na área argentina, informou que no último triênio realizou desembolsos de mais de US$ 10 milhões para buscar novas reservas de hidrocarbonetos.
A Petrobras atua em 19 áreas de produção em terra na Argentina, além de 14 áreas de exploração, três delas marítimas. Com produção de 102 mil barris de petróleo e gás natural por dia no país, a Petrobras prevê investimentos de 1,8 bilhão de dólares na Argentina entre 2011 e 2015, segundo informações da estatal brasileira.
Apesar da necessidade de resolver o impasse, o principal ponto da pauta nesse encontro passou a ser a relação entre as duas petroleiras, YPF e Petrobras - com a presença de Graça Foster no encontro. Segundo o "El Cronista", o oferecimento dos argentinos sobre uma possível parceria na nova YPF também será discutido.
- Vim também, como interventor da YPF, falar com a presidente da Petrobras e discutirmos assuntos em comum das duas empresas - afirmou o ministro argentino, sem dar mais detalhes.
"O objetivo do governo argentino de avançar em associações com importantes empresas petrolíferas para aumentar a produção de hidrocarbonetos da YPF foi ratificado ontem (anteontem) pela presidente Cristina Kirchner num encontro na Casa Rosada com representantes dos sindicatos petrolíferos e governadores das províncias produtoras de petróleo", comentou o jornal argentino.
A recuperação da produção de gás e petróleo é, de fato, uma das metas da nova estatal argentina. Segundo dados do Instituto Argentino de Energia (IAE), desde que os Kirchner chegaram ao poder, em maio de 2003, as reservas de petróleo do país recuam 6% e as de gás despencaram 41%. No mesmo período, a produção de petróleo caiu 18% e a de gás 7%. Com este cenário de crise energética, o governo Kirchner precisa conseguir novos investimentos no setor e a Petrobras, segundo disse Cristina ao ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, em março passado, é uma das apostas de seu governo.
Questionado sobre a revogação da concessão da Petrobras na cidade argentina de Neuquén, de Vido se limitou a dizer que "está negociando".
Edison Lobão afirmou recentemente que o governo brasileiro não está preocupado com uma potencial estatização da Petrobras na Argentina:
- Não estamos vislumbrando nenhum problema com a Argentina. Não há temor. Eu mesmo nem tocarei nesse assunto. Não me cabe entrar na intimidade da decisão argentina.
Fonte: O Globo
3- Magda Chambriard, Diretora Geral da ANP: "Quero me cercar dos mais capazes"
Primeira mulher à frente da Agência Nacional do Petróleo ANP) e primeira indicação sem ligações partidárias do órgão, a engenheira Magda Chambriard, de 54 anos, tem um tom de voz doce e firme - o mesmo que usa em suas cobranças. Há um mês no comando da ANP, Magda promete mais fiscalização nas áreas ambiental e de segurança. Entre o fim de 2011 e abril de 2012, houve três vazamentos de petróleo no mar. "Não pretendo ter um fiscal em cada poço, mas quero estar ciente do que acontece em cada um deles", disse Magda a ÉPOCA. Funcionária de carreira da Petrobras, casada há 27 anos e mãe de duas gêmeas de 19, ela foi guindada a uma vitrine mundial: o Brasil tem 25% da produção de petróleo em águas profundas e se tornará um dos maiores produtores com o pré-sal.
ÉPOCA - Desde o governo Lula, a ANP esteve na cota das indicações do PCdoB. Isso deu margens a críticas, suspeitas e denúncias. A senhora pretende fazer trocas para valorizar os técnicos?
Magda Chambriard - A ANP regula e fiscaliza um dos setores mais dinâmicos da economia brasileira. Para fazer isso com competência, precisa de profissionais preparados e dedicados. É isso que espero de quem trabalha na ANP, servidores ou não. Não vou demitir uma pessoa por ela ser filiada ao partido A, B ou C, como também não vou contratar ninguém por esse motivo. Sei que na ANP existem pessoas filiadas a partidos políticos. Isso não me interessa, como também não me interessa a etnia ou a religião. Hoje, mais de 90% dos superintendentes da ANP são concursados ou funcionários cedidos de outros órgãos. Divido as pessoas em menos capazes, capazes e mais capazes. Sei que existem pessoas muito capazes no serviço público. Pretendo me cercar das mais capazes.
ÉPOCA - A senhora é a primeira indicação para a diretoria-geral da ANP sem respaldo de um partido. Sente-se fortalecida ou fragilizada, já que também não há uma bancada defendendo-a, mas muitas querendo seu lugar?
Magda - Sinto-me honrada. Imagina se, ao me formar, podia pensar que um dia seria indicada pela presidente da República? Se me sentisse fragilizada, não teria aceitado.
ÉPOCA - Como a senhora conheceu a presidente Dilma?
Magda - Ao longo de 2009, participei de muitas reuniões do grupo interministerial do pré-sal para esclarecer alguns pontos. Não dá para dizer que somos amigas, mas temos uma relação de respeito,profissionalismo e até de confiança.
ÉPOCA - O vazamento de petróleo da Chevron, na Bacia de Campos, não foi o pior acidente no país, mas virou um marco por mobilizar o país e as autoridades. Essa é a tônica que vai reger os acidentes daqui para a frente?
Magda - Aquele foi um incidente de porte médio. Vazaram 3.600 barris. Não é tão pequeno, mas não podemos chamar isso de catástrofe. A reação mais forte se deu pelo momento. Os ânimos ficaram exacerbados, e atribuo essa reação à dificuldade de comunicação da Chevron com todos os
órgãos envolvidos. O caso foi um alerta de uma mudança que começou lá atrás. Sem dúvida, vamos apertar cada vez mais a fiscalização. Desde o afundamento da P-36 (plataforma da Petrobras que explodiu em 2001) e o adernamento da P-34, no ano seguinte, a ANP estudou esses incidentes. Até que, em dezembro de 2007, aprovamos um regulamento moderno sobre práticas de gestão, que dava dois anos para as empresas se adequarem. Entramos fiscalizando de forma pesada em 2010. Só então o mercado percebeu que era para valer.
ÉPOCA - Em sua gestão, a ANP será tão dura com a Petrobras quanto foi com a Chevron?
Magda - A interrupção de produção da Chevron foi voluntária, só interditamos um poço. Da P-33 e da P-35, plataformas da Petrobras, interrompemos a produção toda no ano passado. A mesma coisa com a P-27. Portanto, acho que fui mais dura com a Petrobras do que com a Chevron. Gabrielli (ex-presidente da Petrobras) até se queixou publicamente. Sabe o que vem acontecendo? Depois da visita do fiscal da agência, as empresas começaram a se antecipar e parar a produção voluntariamente para corrigir os problemas encontrados. Isso aconteceu com nove plataformas da Petrobras, uma da OGX (empresa de Eike Batista) e outra da ONGC (estatal indiana). Em 129 auditorias, identificamos cerca de 1.000 não conformidades em um ano e meio.
ÉPOCA - A ANP pediu para ver o contrato do consórcio Chevron-Petrobras no Campo de Frade para saber como ficou a divisão de responsabilidades ali?
Magda - Não, porque o contrato de concessão diz que as partes se comunicam entre ANP e operadora. Os sócios têm instrumentos particulares para regular a relação entre eles, um documento que nem precisa ser submetido à ANP. Sem novos leilões, na virada de 2015 para 2016 o Brasil não terá mais áreas exploratórias.
ÉPOCA - Muitos especialistas consideram a legislação brasileira mais punitiva que preventiva, um erro numa indústria sujeita a tantos riscos. A senhora concorda?
Magda - Tanto o acidente de Montara, na Austrália (2009), como o vazamento da BP no Golfo do México (2010)trouxeram uma preocupação muito grande sobre a atuação em águas profundas. O Brasil tem 25% da produção em águas profundas no mundo, portanto somos vistos com atenção. O que estamos fazendo em relação a isso é justamente concentrar na prevenção. Acompanhamos todas as discussões mundiais sobre melhorias de equipamentos. Mais adiante podem surgir novas regras, mas a coluna vertebral disso é o aspecto humano. Todos os acidentes tiveram ingredientes humanos. Investir na cultura da segurança é fazer as partes envolvidas compreender o risco da atividade. A indústria tem sinais que, se ultrapassados, elevam o risco do projeto. Esse risco pode até ser aceitável para o dono do projeto, mas ele tem de saber que é intolerável para a sociedade.
ÉPOCA - Há medidas em estudo para melhorar a prevenção?
Magda - O novo regulamento, do fim de 2007, exige análise de risco. O concessionário submete os documentos à ANP para ter autorização e operar. Essa análise fica disponível na plataforma para ser auditada pela ANP, e as plataformas são auditadas a cada dois anos, dois anos e meio. Um dos pontos em avaliação é se obrigo o concessionário a expor à análise de risco com antecedência. Pode aumentar a segurança, mas atrasa a atividade. É possível que eu escolha algumas situações apenas. Se tiver de olhar todas as análises de todos os projetos, imagina, cerca de 900 poços são perfurados por ano. Pode ser também que os concessionários se sintam menos responsáveis pela atividade, algo que os reguladores têm de evitar. Quanto mais instruções, mais burocrático se torna o processo, menos responsabilidades os operadores assumem. O equilíbrio entre ser prescritivo demais e "babá do concessionário" é o ideal. A gente fiscaliza 95 mil agentes econômicos. Não dá para ter 95 mil fiscais.
ÉPOCA - Como será a intensificação da fiscalização?
Magda - No caso das plataformas, dobraremos nossas fiscalizações embarcadas e seremos mais exigentes nas auditorias, com os 152 servidores que pretendemos contratar em novo concurso, neste ano. Vamos criar a Superintendência de Segurança e Meio Ambiente, que substituirá as Coordenadorias de Segurança Operacional e de Meio Ambiente. O Brasil passará a ser um grande produtor de petróleo, e boa parte dessa produção virá do pré-sal, em águas ultraprofundas. Não pretendo ter um fiscal em cada poço, mas quero estar ciente do que acontece em cada um deles, inclusive em terra.
ÉPOCA - A senhora recebeu alguma garantia de que os recursos da agência não seriam bloqueados no Orçamento?
Magda - Uma das obrigações da ANP é fazer estudos das áreas sedimentares do país. Fizemos um plano de cinco anos e mostramos ao governo que precisamos de dinheiro. A verba para estudos era de R$ 2 bilhões por ano. Pedimos de 10% a 15% disso. Na décima rodada, licitamos áreas em Mato Grosso, adquiridas pela Petrobras. Que valor ela enxergou lá agora se ela mesma tinha devolvido aquelas áreas para a ANP? Foram nossos estudos e, como estão no PAC, não serão cortados.
ÉPOCA - O último leilão de áreas exploratórias de gás e petróleo foi realizado em 2009. Quando a ANP realizará a próxima rodada?
Magda - Ainda não está decidido, em função da discussão sobre a distribuição dos royalties do pré-sal e fora do pré-sal, no Congresso. Para mim é simples: tudo o que estiver contratado até 2011 fica como está. Muda apenas a cobrança de royalties do que acontecer de 2012 em diante. Só não sei como botar isso na lei. Tão logo se resolva isso, dará para falar na 11a rodada, que marcará a descentralização da atividade exploratória no país. O pré-sal está no litoral da parte mais rica do país: Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo. E os outros? Queremos puxar esses nvestimentos para outras partes do país, por isso fomos estudar as bacias sedimentares do Piauí. Poderia ser em outro lugar? Poderia. Mas, como não podíamos fazer tudo ao mesmo tempo, a ANP começou pelo menor IDH.
ÉPOCA - Qual o cenário da indústria sem novos leilões, já que as áreas sem descoberta vão sendo devolvidas para a ANP?
Magda - Sem novos leilões, na virada de 2015 para 2016 o Brasil não terá mais áreas exploratórias. Serão todas de produção. Dez anos é o tempo médio entre a assinatura do contrato e uma descoberta comercial. Além do mais, a atividade exploratória é investimento, gera empregos, renda. Nossa sugestão é que essa indústria parapetrolífera seja desenvolvida longe do pré-sal, para não deixar o Brasil para trás.
ÉPOCA - O desenvolvimento do pré-sal dependerá da Petrobras, operadora obrigatória dos contratos de partilha. Essa dependência não a preocupa?
Magda - Tudo isso foi muito discutido e se achou que era possível. Vamos trabalhar para viabilizar tudo isso. Acredito que ainda teremos muitas surpresas boas, mas o que não der certo a gente corrige. Como tudo na vida.
Isabel Clemente
Fonte: Revista Época